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sexta-feira, janeiro 15, 2010

O HAITI MAIS PERTO DE NÓS - 16 jan

O HAITI MAIS PERTO DE NÓS.


(Publicado em O Diário do Amapá - em 16 de janeiro 2010)


Estamos sem palavras que traduzam bem toda extensão dos nossos sentimentos de solidariedade ao povo haitiano, em face de perdas tão terríveis. Foi provação demais essa enorme destruição causada pelo terremoto que botou no chão a cidades de Porto Príncipe, como ocorreu a Galenk e Izmit, na Turquia em 1999. O que vimos foi o retrato de escombros e debaixo milhares de pessoas, milhares de cadáveres.

Emocionam essas cenas tristes, nos faz chorar imagens de crianças como a de Peia, e de homens já muito maduros vasculhando ruínas em busca de seus valores, às vezes alguma fotografia, uma sandália, um chapéu, qualquer coisa que fique como lembrança material dos pais, da esposa, filhos, parentes e amigos mortos e sepultos sob aquelas montanhas de escombros.

Tomara, perante a desgraça, seja o povo haitiano tornado preferencial por causa da pobreza e do direito que convencem tratar-se de pessoas donas de um país transformado em altar por causa da dor e em templo por causa da fé no futuro, que haverá de sustentá-las. Dessa vez o mundo vai perceber esse seu pedacinho.

O Haiti de que sempre ouvi falar é uma terra de valentes, povo capaz das grandes vitórias contra a tirania e de sacrifícios pela sobrevivência mais comezinha, umas que triunfam outras que, ao final, purificam. Olhando o povo haitiano pelos olhos desse terremoto o que vemos, na verdade, é um país e um povo parecidos com o oceano agitado que encanta e afronta, ou com um lago quieto que deslumbra e de repente transborda tragicamente.

E vendo, como a televisão tem mostrado, aquela gente posta nas ruas pela fúria do grande terremoto, mas ainda à espera de outros terremotos, somos forçados a admitir que pais, filhos, parentes, amigos haitianos por alguns dias não poderão pensar em nada concretamente, não terão palavras, ficarão vazios de sonhos, parecerão agora sim “homens sem alma”. Precisarão de ajuda.

Nós, brasileiros, conhecemos bem o peso das tragédias humanas sociais e econômicas que se abatem sobre os povos – as que vêm do furor da natureza e as causadas pelas mãos pesadas dos governos ruins, corruptos, que usurpam do país a capacidade de socorrer o povo em momentos assim.

Estejam certos os haitianos do Haiti e do mundo, principalmente os que possam estar entre nós aqui no Amapá que, agora, os brasileiros são mais seus irmãos que antes porque morremos juntos. Ficaram entre os mortos de Porto Príncipe alguns dos nossos soldados e mais uma santa brasileira: D. Zilda Arns. Somos uma grande nação cristã, temos sim, para os haitianos, solidariedade, fé no futuro, braços para o abraço , tudo em fim que saia de nós, rompa a distancia voando até seus lares, nos unindo no esforço de devolver-lhes a rotina da vida, a paz, o conforto espiritual e mesmo um pouco de prosperidade.

Tudo uma pena, um desperdício de vidas preciosas. Depois de passada mais essa indescritível provação ficará ao povo haitiano a elevada tarefa de recapturar a alma de sob os escombros. Foi também a cada cidadão desse pobre Haiti que o poeta Fernando pessoa disse: “Quem quer passar além do Bojador tem que passar além da dor...”.



Notas: ¹-Aqui no Amapá também vivemos nossa tragédia particular: enterramos a Professora Risalva Amaral, soberana mesmo morta. ²- Fica sempre, um pouco de perfume, nas mãos que oferecem rosas, nas mãos que sabem ser generosas – ultima musica ofertada à Profª. Risalva pelo Apostolado da Oração, quando o caixão baixou à sepultura. ³- Tem gente que tem cheiro de passarinho quando canta, de sol quando acorda, de flor quando ri. Ao lado delas, a gente se sente no balanço de uma rede que balança gostoso numa tarde grande, sem agenda. 4-Vendo o corpo da Professora sendo devolvido ao pó renovei meu compromisso de pisar este chão com muito respeito. Novamente entendi que ao lado de pessoas como ela pode ser janeiro, mas parece a manhã de Natal do tempo em que a gente acordava ansioso por encontrar o presente do Papai Noel sobre o sapato deixado à noite debaixo da cama . 5-Hoje estou vivendo o primeiro dia dos meus 59 anos de idade: obrigado a todas as pessoas que fazem parte dessa minha vida. 6-Sou voluntário para o Haiti – é só convocar.

- (http://cesarbernardo-finalmente.blogspot.com – http://cesarbernardosouza.zip.net)

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