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domingo, janeiro 10, 2010

PROFESSOR NILSON MONTORIL

As primeiras comermorações natalinas em Macapá




A partir do ano de 1738, após a instalação de uma guarnição do Exército de Portugal na Província dos Tucujú, o principal evento da cristandade, o Natal de Jesus Cristo, passou a ser comemorado em terras de Macapá. Certamente os militares limitaram-se a realizar orações e improvisar a ceia. Na época, nem sacerdote havia no Lugar Macapá, daí não ter sido possível a realização da missa do galo. Porém, no Natal de 1751, com a implantação do povoado, soldados e açorianos devem ter vivido uma inusitada experiência na faixa setentrional do planeta, onde muitos estudiosos acreditavam não ser possível a sobrevivência humana. Desta feita o Padre Miguel Ângelo de Moraes integrava o contingente lusitano colonizador que contava com o apoio de índios e negros escravos. A primeira comemoração de natal que uma comunidade viveu na faixa oriental do braço norte do Rio Amazonas foi embalado apenas por sentimentos religiosos, haja vista que as fortes e freqüentes chuvas haviam destruído quase toda a plantação dos moradores de Macapá e causado outros malefícios. A primeira igreja de São José, erguida em taipa e despida de luxo, ficava no espaço onde foi assentado o baluarte São Pedro da majestosa Fortaleza de São José. Por ocasião do Natal de 1761, a missa do galo aconteceu na atual Igreja de São José, cuja inauguração tinha ocorrido no dia 6 de março. Macapá era vila desde o dia 4 de fevereiro de 1758, e em volta do Largo de São Sebastião, atual Praça Veiga Cabral, inúmeros prédios públicos e residências já estavam ocupados. Tudo era feito de maneira muito simples. Presentes e mesa farta não existiam. Entre os anos de 1764 e 1782, o número de escravos aumentou consideravelmente em decorrência da necessidade de mão de obra para a edificação da fortaleza. Eles nada sabiam sobre o significado do Natal porque não eram cristãos. Os religiosos se encarregaram de orientá-los na doutrina católica e foram tolerantes quando os cativos fizeram seus tambores rufarem no dia 24 de dezembro do citado período. Ora, pensavam os negros, se o momento era importante e merecia entusiástica comemoração, porque não lembrar as festas de coroação de seus reis ou fatos marcantes da sua cultura? Cientes de que não seria prudente impedir as batucadas, os religiosos sugeriram que elas fossem realizadas em louvor a Nossa Senhora do Rosário. Nas terras de Macapá tudo era obtido com muito trabalho e sacrifício. Diversos estágios foram vividos por nossos antepassados. As coisas só começaram a melhorar a partir do natal de 1944, quando já estava implantado o Território Federal do Amapá. Antes disso, apenas os mais aquinhoados podiam realizar a ceia natalina consumindo os produtos da época, vendidos por firmas importadoras de Belém. Em Macapá, eram raros os comerciantes que se arriscavam a adquirir bacalhau, castanha portuguesa, uvas, maças e peras. Quem criava aves ou podia comprá-las tinha uma ceia natalina mais sofisticada. Refrigerante e cerveja vinham de Belém e quem podia adquiri-los os tomavam ao natural. Só os donos de geladeiras a querosene se davam ao luxo de saboreá-los gelados. O natal de 1944 se revestiu de profunda tristeza para os católicos de Macapá, devido à morte do Padre Júlio Maria Lombaerd, ocorrida em Manhuaçu, Minas Gerais, na tarde do dia 24 de dezembro. A notícia chegou pelo telégrafo, endereçada aos Padres Phellipe Blanc e Antônio Schultz, ambos integrantes da Congregação da Sagrada Família, a mesma a qual pertencera o sacerdote falecido. Grande parte da população de Macapá conviveu com o Padre Júlio quando ele aqui desempenhou as suas atividades e tinha por ele grande estima. Por essa razão, apenas as funções religiosas receberam maior atenção. No dia 25, Dona Iracema Carvão Nunes, esposa do governador Janary Nunes, distribuiu brinquedos e roupas às crianças pobres. Em 1945, a motivação para a realização de festas foi enorme. Desde o dia 13 de setembro estava em funcionamento a Usina de Força e Luz, permitindo que quase a totalidade dos moradores de Macapá guardasse as lamparinas, estearinas e candeeiros para as emergências. A cidade recebeu decoração natalina e iluminação pública. No dia 24 de dezembro o governo do Território do Amapá ofereceu uma festa dançante aos operários que trabalhavam nas obras públicas. O local escolhido foi a casa do senhor Sebastião Canuto da Costa, edificada na Travessa Castelo Branco, atual Rua Tiradentes, espaço hoje ocupado pelo Foto Tókio. Lá compareceu o governador em exercício, Raul Montero Valdez, que sorteou brindes aos presentes. O baile começou às 20 horas e terminou às 23h30min horas a fim de permitir que todos pudessem assistir a missa do galo e passassem o natal em Casa. Os servidores públicos estavam transbordantes de alegria porque o Presidente da República, José Linhares, havia baixado o Decreto-Lei nº 8.322 estendendo ao pessoal dos Territórios Federais o abono de emergência vigente no país desde o dia 12 de novembro. Como a Rádio Difusora estava sendo ouvida em todo o Território do Amapá, o povo do interior ficou sabendo de tudo que se passava na capital. Mensagens de natal e músicas da época foram executadas entre as 20 e 21 horas, período de experiência da emissora. Na manhã do dia 25 de dezembro, a Legião Brasileira de Assistência distribuiu presentes às crianças pobres. A virada do ano foi ruidosa. O Esporte Clube Macapá realizou Reveillon a partir das 22 horas em sua sede social, à Rua São José. A venda de mesas ficou a cargo do Diretor Social do clube, José Porpino da Silva. Os sócios em dia com suas contribuições deveriam apresentar na entrada da sede o recibo nº 12.

Em 1946, a partir do dia 5 de outubro, a LBA iniciou os trabalhos para organizar o "Natal das Crianças Pobres do Território". Nesse dia se deu o lançamento da Campanha da Boa Vontade, através da qual a LBA procurou motivar as pessoas de maior poder aquisitivo para apoiá-la. A comissão encarregada da programação era composta por Irauta Carvão Levy, Alice de Araújo Jucá, Olga Montoril de Araújo, Lair do Couto Freitas, Elly Benedetti e Federação das Bandeirantes do Amapá. No dia 25, as mães e as gestantes receberam cortes de fazenda. As crianças foram aquinhoadas com brinquedos e roupas fabricadas pelas costureiras da LBA. A ceia de natal das autoridades e convidados aconteceu no salão nobre do Macapá Hotel. Dia 31 de dezembro, no mesmo local, houve o reveillon oferecido pelo governo à sociedade. A festa dançante dos operários aconteceu na casa do senhor Sebastião Canuto. Dia 1º de janeiro de 1947, data consagrada à Fraternidade Universal, era exibido pela primeira, vez na tela do Cine Territorial, o segundo filme mostrando aspectos de Macapá, Amapá e Oiapoque. As cenas registraram o cenário encontrado pelo Governador Janary Nunes em janeiro de 1944 e as mudanças efetivadas no transcurso de quase três anos da existência do Território Federal do Amapá. Quando comecei a entender a ciranda da vida, pude verificar que a ceia natalina do pobre tinha no mínimo um bolo e chocolate de fabricação caseira misturado a ovos batidos. Não eram poucos os comerciantes do interior que fabricavam pão, vendendo-os a seus fregueses. Portanto, eles também mandavam fazer pão-de-ló. Cansei de ver minha mãe preparar bolo, pastéis, pão-de-ló e chocolate ralado. De manhã, esperando saborear essas delícias, me diziam que o Papai Noel tinha chegado muito cansado da viagem e comera quase tudo. Hoje, a nossa aprazível cidade de Macapá pouco fica a dever às grandes capitais do país. Tudo é farto e relativamente fácil de comprar, principalmente presentes que fazem a alegria das crianças. Este estágio de prosperidade não é obra do acaso. Decorre do trabalho perseverante das diversas gerações que contribuíram para o progresso brasileiro.



"Os religiosos se encarregaram de orientá-los na doutrina católica e foram tolerantes quando os cativos fizeram seus tambores rufarem no dia 24 de dezembro do citado período. Ora, pensavam os negros, se o momento era importante e merecia entusiástica comemoração, porque não lembrar as festas de coroação de seus reis ou fatos marcantes da sua cultura? Cientes de que não seria prudente impedir as batucadas, os religiosos sugeriram que elas fossem realizadas em louvor a Nossa Senhora do Rosário."

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