Translate

domingo, março 07, 2010

PROFESSOR NILSON MONTORIL - DIARIO DO AMAPA - 07 DE MARÇO

Remo, o clube de periçá




As trajetórias existenciais dos dois mais importantes clubes do Estado do Pará, Remo e Paysandu são repletas de fatos curiosos. O Clube do Remo não surgiu com essa denominação e sim com o título de Grupo de Remo, no dia 5 de fevereiro de 1905. Foi fundado por alguns esportistas discidentes do Sport Club of Pará para participar das competições náuticas realizadas nas águas da Baia de Guarajá. Aliás, vários dos grandes clubes do Brasil tiveram no inicio de suas atividades o escopo exclusivo de disputar regatas. O primeiro campeão paraense de remo foi o Pará Clube, em 1905,que fez uso de apenas um barco, o "Ceará". Os barcos utilizados nas regatas eram conhecidos como "iole". Os mais leves vinham da Itália e os mais pesados eram fabricados no Rio Grande do Sul e em Niterói. A segunda regata no Pará só aconteceu em 1909 e a Recreativa sagrou-se campeã utilizando o barco "Ruivinha". A sede náutica do Grupo do Remo foi erguida na Rua Siqueira Campos, ex-Rua Norte, a primeira a ser aberta em Belém. A Garagem Náutica, ainda em atividade tem fundos para o Rio Guamá. Em 1907, o Grupo do Remo possuía nove embarcações compreendendo canoas de 2 e 4 remos, baleeiras de 2, 4 6 e 12 remos, iole a 4, iole a 8 e double-shiff. Devido a uma crise interna os remistas decidiram decretar a extinção da agremiação, mas fizeram-na ressurgir no dia 15 de agosto de 1911. Participaram dessa iniciativa, abnegados desportistas entre eles o macapaense Cândido Ramiro Jucá, filho do Coronel Coriolano Finéas Jucá, primeiro Intendente do Município paraense de Macapá. Cândido Jucá residia em Belém e morria de amores pelas cores do Remo. Em sua nova fase a instituição passou a ostentar a denominação de Clube do Remo, devotando-se ao esporte náutico, ao tênis, a natação e ao futebol. O jogo de batismo do Clube do Remo, no futebol, data de 14 de julho de 1913, contra o time da União Esportiva. Os azulinos suplantaram seus adversários por 4x1. A União Esportiva havia conquistado o titulo do primeiro campeonato paraense de futebol em 1908. Em 1909, não houve disputas, mas em 1910, a União Esportiva sagrou-se bi-campeão. Na cidade de Belém não existia estádio de futebol. As partidas eram disputadas num arremedo de campo delineado em uma ampla área urbana no Largo de São Braz. Nos anos de 1911 e 1912 também não ocorreu certames. Em 1913, ainda jogando no campo do Largo de São Braz, o Clube do Remo conquistou o campeonato. Em 1914, atuando no campo do Paysandu, o Remo obteve mais um título, repetindo a façanha até 1919. É ainda hoje o único hepta-campeão paraense de futebol. Nos esportes náuticos o Clube do Remo continuava amealhando glórias. Entretanto, em 1921, uma fatalidade deixou o desporto do Pará de luto. Na manhã do dia 16 de maio do ano acima referido, o jovem atleta Carlos Ferreira Lopes, conhecido como Periçá, que integrava a segunda equipe de futebol do Clube do Remo foi defender as cores de sua agremiação numa prova de "mergulho de tempo". Vencia essa prova o competidor que passasse mais tempo submerso. Periçá havia nadado 600 metros em outra competição e ainda não estava completamente refeito do esforço dispendido. Ele era tido como um mergulhador de muito fôlego e tinha provado isso em outras disputas. Desta feita Periçá mergulhou, mas demorou demais. Seus seis irmãos que o acompanhavam e outros atletas do Remo o retiraram das águas da Baia do Guajará ainda com vida e o levaram para o Hospital D. Luiz I. Naquela casa de saúde Periçá permaneceu internado por sete dias, falecendo no dia 23 de maio de 1921. O enterro do abnegado atleta provocou profunda comoção nos moradores de Belém e foi acompanhado pela multidão até o cemitério Santa Izabel. Nascido na capital do Pará a 18 de outubro de 1898, Periçá faleceu com apenas 21 anos incompletos. Entre as homenagens prestadas a Carlos Ferreira Lopes, os próceres azulinos rotularam o Remo como o "Clube de Periçá". No inicio da década de 1920, o Clube do Remo possuía entre seus atletas o jovem Evandro Almeida. Na defesa, ele só não atuava como goleiro. Em 1924, quando o Clube do Remo sagrou-se campeão a formação azulina era: Francelisio; Romeu e Ovídio; Brito, Vivi e Evandro Almeida; Formiga, Pequenino, Formigão, Rato e Porto. Evandro Almeida permaneceu como titular do Remo durante dez anos, sagrando-se campeão em 1925, 1926, 1930 e 1933. Em uma partida realizada em seu próprio estádio, o clube de Periçá perdia o jogo quando Evandro Almeida disputou de cabeça uma bola com um adversário e sofreu acentuado corte no couro cabeludo. Foi retirado de campo e assistido pelo médico, mas não aceitou ser substituído. Mesmo estando com a cabeça enfaixada ele retornou ao campo e a usou para marcar o gol de empate. Com essa prova de raça, coragem e amor ao time, Evandro Almeida foi considerado um autêntico leão. Isso levou os dirigentes do Clube do Remo a nomear o estádio da agremiação como Evandro Almeida. Além de ser rotulado como Clube de Periçá, o Clube do Remo também é conhecido como "Leão Azul". Coube ao jornalista Edgar Proença utilizar o termo pela primeira vez. Os torcedores normalmente simplificam o termo para Leão. Por amor ao Clube do Remo, meu tio Hermano Jucá de Araújo mandou esculpir, em Macapá um Leão igual aos que existem na frente do Fórum, atual sede da OAB/AP. Por exigência de Hermano Jucá, fanático torcedor do Remo, a escultura foi pintada de azul marinho e doada ao time da sua devoção. Duro foi convencer o Comandante Francisco Jucá do Nascimento, seu primo e cunhado, a levar o leão para Belém. O Comandante Jucá, que era torcedor do Paysandu, disse que só transportaria a escultura se ela fosse encaixotada e colocada no fundo do porão do navio da ENASA que navegava sob sua responsabilidade. Se algum torcedor do Remo não sabia disso,

Nenhum comentário: