Translate

segunda-feira, abril 19, 2010

VALE O QUE ESTÁ ESCRITO

Vale o Escrito - "O Asteróide 21"








Wagner Gomes*



" O último sábado estive participando do aniversário do meu amigo Helder Ferreira, que é Defensor Público Geral do Estado. Na ocasião, sentados a uma mesa, encontrei o professor Antonio Munhoz Lopes, o jornalista Bonfim Salgado e o comentarista César Bernardo. Também lá estavam os advogados Ronaldo Serra, Emmanuel Dante e Carlos Souza, entre outras cabeças "coroadas", como diz o Marquês de Bonfá (Bonfim Salgado). Na oportunidade, um grupo de amigos assu-miu o compromisso de registrar em livro, a vida, obra e traba-lho do professor Munhoz no Amapá. E logo surgiu uma indagação: o porquê do antigo endereço do Mestre ser conhecido como "Asteróide", o apartamento de n° 21 que mantinha no inesquecível Hotel Santo Antônio.

Para responder é necessário se recorrer ao escritor, aviador e jornalista Antoine Marie Jean-Baptiste Roger de Saint-Exupéry, autor do O Pequeno Príncipe.

O livro conta a história de um piloto de avião que sofre um acidente e cai no deserto do Saara. O aviador fazia a viagem so-zinho e precisava consertar a sua máquina em poucos dias, antes que seu estoque de água acabasse. Perdido na imensidão do deserto, o piloto se surpreende ao encontrar um garoto - o Pequeno Príncipe. Aos poucos, descobre a fabulosa história do menino.

Ele morava em um asteróide chamado B-612. Lá, a maior preocupação do Pequeno Príncipe eram os baobás - grandes árvores que poderiam destruir o asteróide.

O garoto precisava arrancar as mudas dos baobás antes que crescessem. Ele decide então vir para a Terra à procura de um carneiro, que poderia comer as mudas dos baobás, poupando-o desse trabalho. Durante a viagem, encontra várias pessoas e animais.

O Pequeno Príncipe representa a criança que todo adulto já foi um dia. Narrando o encontro do piloto com o garoto no deserto, Saint-Exupéry nos conta a história de alguém que redescobre a sensibilidade artística de quando era criança e que foi reprimida pelos adultos.

Saint-Exupéry morreu num acidente de avião sobre a Córsega, a 31 de julho de 1944, durante a Segunda Guerra Mundial, provavelmente abatido pelos alemães.

Mas, voltando ao assunto principal deste artigo, durante uma pausa às badalações do "niver", o advogado Ronaldo Serra falou da importância da sua geração ter tido como professor de Literatura um mestre da envergadura do Munhoz Lopes, que incentivava seus alunos ao gosto pela leitura e a escrita.

E para homenagear o Munhoz, trago à colação o "credo" do professor gaúcho Gilberto Scarton, denominado CREIO, que não me foi possível revelar naquele instante:



CREIO que a função principal da escola é a de desenvolver ao máximo a competência da leitura e da escrita em seus alunos.



CREIO na leitura, porque ler é conhecer - o que aumenta consideravelmente o leque de entendimento, de opção e de decisão das pessoas em geral.



CREIO na leitura como uma reação ao texto, levando o leitor a concordar e a discordar, a decidir sobre a veracidade ou a distorção dos fatos, desmantelando estratégias verbais e fazendo a crítica dos discursos - atitudes essenciais ao estado de vigilância e lucidez de qualquer cidadão.



CREIO na escrita como instrumento de luta pessoal e social, com que o cidadão adquire um novo conceito de ação na sociedade.



CREIO que, quando as pessoas não sabem ler e escrever adequadamente, surgem homens decididos a LER e ESCREVER por elas e para elas.



CREIO que nossas possibilidades de progresso são determinadas e limitadas por nossa competência em leitura e escrita.



CREIO, por isso, que a linguagem constitui a ponte ou o arame farpado mais poderoso para dar passagem ou bloquear o acesso ao poder.



CREIO que o homem é um ser de linguagem, um animal semiológico, com capacidade inata para aprender e dominar sistemas de comunicação.



CREIO, assim, que a linguagem é um DOM, mas um DOM de TODOS, pois o poder de linguagem é apanágio da espécie humana.



CREIO que o educando pode crescer, desenvolver-se e firmar-se lingüisticamente, liberando seus poderes de linguagem, através da simples exposição a bons textos.



CREIO, por isso, em M. Quintana, que afirmou: "Aprendi a escrever lendo, da mesma forma que se aprende a falar ouvindo, naturalmente."



CREIO, pois, no aluno que se ensina, no aluno como um auto/mestre, num processo de auto-ensino.



CREIO que o ato de escrever é, primeiro e antes de tudo, fruto do desejo de nos multiplicarmos, de nos transcendermos, e mesmo de nos imortalizarmos através de nossas palavras.



CREIO, juntamente com quem escreveu aos coríntios, que a um o Espírito dá a palavra de sabedoria; a outro, a palavra de ciência segundo o mesmo Espírito; a outro, o mesmo Espírito dá a fé; a outro, ainda, o único e mesmo Espírito concede o dom das curas; a outro o poder de fazer milagres; a outro, a profecia; a outro, ainda, o dom de as interpretar.



CREIO que a ti te foi dado o poder da PALAVRA.



CREIO, por isso, na tua paixão pela palavra. Para anunciar esperanças. Para denunciar injustiças. Para in(en)formar o mundo com a-vida-toda-linguagem.

PORTANTO, vem! Levanta tua voz em meio às desfigurações da existência, da sociedade: tu tens a palavra. A tua palavra. Tua voz. E tua vez.

Parabéns ao Dr. Helder Ferreira pelo significativo encontro de gerações em que se transformou o seu aniversario. E que o compromisso firmado acerca do livro do professor Antonio Munhoz, seja cumprido.

P.S. Helder, Bonfim, César, Dante, Paulo Guerra, Nestlerino Valente e Antônio Chucre, não deixem que os baobás destruam a história do "Asteróide 21".



*-Advogado – Presidente da Comssão de Relação Exteriores da OAB-AP. wagnergomesadvocacia@uol.com.br- wg_ed.wagneradv@hotmail.com

Nenhum comentário: