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segunda-feira, maio 24, 2010

FATOS DA NOSSA HISTÓRIA

Mazaganenses não descendem de Mouros



Profº. Nilson Montoril

Alguns estudantes universitários que buscavam subsídios para a ela-boração de um trabalho de conclusão de curso me perguntaram de que parte do mundo vieram as referências a respeito de seres encantados e das sereias. A indagação decorreu da crendice que muita gente ainda tem sobre criaturas fantásticas do folclore brasileiro. Duas das estudantes, descendentes de mazaganenses, me contaram que seus avós tinham o costume de narrar episódios que teriam ocorrido em Mazagão Velho e em lugares vizinhos daquela vila. Disse-lhe que estes conhecimentos chegaram à região com os ex-moradores do Castelo de Mazagão, no Marrocos, transferidos para a Amazônia por ordem do rei D. José I. Na bagagem cultural dos migrantes também vieram curiosas lendas muito difundidas pelos mouros. No decorrer de mais de duzentos anos os portugueses ocuparam marte do litoral do Marrocos e sustentaram diversas jornadas bélicas com os mouros e os berberes. Em algumas ocasiões os litigantes mantiveram relacionamento amistoso e isso rendeu a absorção de alguns costumes e crenças por parte dos lusitanos. Muitos dos portugueses que vieram para Nova Mazagão nasceram no Castelo de Mazagão, na África, mas isso não quer dizer que eles eram mouros ou berberes. Os migrantes que possuíam escravos negros os compram de mercadores, alguns deles de origem moura. É provável que os escravos tivessem o hábito de contar às crianças histórias fantásticas próprias da região da Mauritânia e do Marrocos. Entretanto, as lendas sobre cobra grande nos herdamos dos colonizadores portugueses. Eles levaram nossos índios a creditar na existência de seres sobrenaturais e a perpetuarem a crendice. Em diversas oportunidades ouvi umas histórias deveras interessantes que os moradores mais antigos de Mazagão contavam sobre "encantamentos" de jovens e belas mulheres. O encantamento era um castigo imposto por uma feiticeira ou bruxa a alguém da estima de seus desafetos, que poderia ser quebrado à conta de adivinhações ou realização de proezas. Aliás, em um livro denominado "Temas Culturais", impresso em Lisboa por Edições Panorama,em 1961, vários escritores tratam desse assunto. Curiosa é a lenda das mouras encantadas em forma de cobra que passam a ter figura humana na noite de São João. Almeida Garrett confirma esta tradição: "é crença popular entre nós que na noite de São João todos os encantamentos que ordinariàmente andam em figura de cobras, retomam nessa noite sua bela e natural presença e vão por-se ao pé das fontes, ou à borda dos regatos a pentear os seus cabelos de ouro". Martins Sarmento escreveu que "em Riba de Âncora uma rapariga viu uma moura em forma de cobra num sitio chamado Picoto dos Mouros. Aqueles que a viram, juram que ela tem cabelos como de mulher". Em Oliveira de Azemés, é voz corrente que na noite de São João, surgem ao pé das fontes e nos penedos bichas mouras com a forma de cobra e com cabelo. Consigliere Pedroso informa que elas seguram nas mãos tesouras de ouro e quando encontram alguma pessoa, perguntam: "que desejais de mim, os meus olhos ou as minhas tesoiras? Se a pessoa diz que prefere as tesouras de oiro, as bichas mouras retiram-se muito tristes. Se pelo contrário, a pessoa responde que deseja os olhos, elas de tão contentes que ficam desatam a dar-lhes beijos e assim quebram o encanto". Em Portugal, o povo chama as mouras encantadas de mourinhas, encantadas ou bichas mouras. Vale esclarecer que o vocábulo bicha vem do latim bestia, que quer dizer animal. É por isso que nos dizemos que os amarelões de ventre proeminente têm bicha na barriga, ou seja, possuem lombrigas.No caso das bichas mouras poder-se-ia muito bem dizer cobras mouras.Os interioranos não tem medo delas porque são de boa índole.Entre as criaturas encantadas mais famosas despontam as sereias, cujas hipóteses de origem inclinam-se para a origem grega ou para a origem fenícia. Em se tratando de encantamento, a versão fenícia, no sentido de canto, é a mais apropriada, haja vista que o fator gerador do encantamento era exatamente a voz maviosa das sereias. Além do mais, a sereia retratada pelos gregos era metade mulher e metade ave, como as harpias. Na lenda fenícia a sereia é metade mulher e metade peixe. Na parte mulher a pele é pálida, os olhos escuros e os cabelos compridos. "As sereias gregas teriam voz horripilante, primeiro como de pranto, depois como de riso e gargalhadas, semelhantes a clamores de um arraial em festa." As sereias gregas também são chamaras sirenas, expressão derivada de seirén. Daí vem o nome sirene, que identifica o som das ambulâncias, dos carros de bombeiros e dos avisos de ataque aéreo ou qualquer momento de perigo. Para Kastner, "a fábula das sereias foi imaginada para sob a forma poética indicar os perigos que esperam os navegadores sobre os mares, ou melhor, num sentido filosófico, os perigos que o homem neste mundo, encontra no seu caminho". No livro "Auto das Fadas", escrito por Gil Vicente, há uma interessante quadrinha onde as sereias são denominadas fadas:" Vai logo às ilhas perdidas/No mar das penas ouvinhas; Traze três fadas marinhas/ Que sejam mui escolhidas". O primeiro bispo de Goa, D. Gaspar Leão, no seu notável livro "Desencanto de Perdidos", diz que as "fábulas têm fundamento de algumas verdades e que se chamam sereias a estas mulheres, pelo atrevimento que fazem aos homens com a formosura, as palavras e artifícios do oficio, com os quais, convidados os homens se perdiam". A lenda das sereias fascinou os nossos índios ao ponto de gerar a Iara, a senhora dos rios. Na cultura negra a sereia é representada por Iemanjá, a rainha do mar. No folclore amapaense possuímos uma "mão-de-samba" inclusa nas cantigas que louvam Nossa Senhora da Piedade. O folguedo teve inicio na localidade de Ajudante, em Mazagão. Posteriormente foi levado para a posse Santa Bárbara, no Igarapé do Lago do Rio Vila Nova. Mão-de-samba é o nome que se dá ao canto do batuque de Nossa Senhora da Piedade. O ritmo é diferente do ladrão do marabaixo e assemelhado ao lundu. É famoso o verso de repercussão que fala da sereia: "Fui passear com a sereia/ bicho do fundo levou/ corre sangue pela veia/ no coração deixa dor". Segundo Fernando de Castro Lima, ilustre folclorista português, "as moiras ou mourinhas são boas e generosas. As sereias são prenúncio de perdição e desgraça Para o citado escritor, a mitologia é a poesia da História, e sem ela não se poderá escrever nada de belo, nem de grande, nem de imorredouro".

Ele também se reporta a lenda segundo a qual Ulisses, herói grego da guerra contra Tróia e rei de Ítaca, teria sido o verdadeiro fundador da cidade de Lisboa. Fez isso ao alcançar à costa portuguesa depois de seguir os conselhos da feiticeira Cirse e livrar-se dos encantamentos gerados pelo canto das sereias quando retornava para seu reino. Amarrado no mastro de seu navio foi o único membro da tripulação que ouviu o arrebatador canto das fadas do mar. Seus companheiros usaram cera nos ouvidos e nada escutaram. Os portugueses contestam a versão de que Ulisses fundou Lisboa. A versão mais aceita é de que essa ação coube aos fenícios. Descobriram-se ao longo da costa de Portugal vestígios/artefatos deixados pelos fenícios, experientes navegadores acostumados a percorrer o litoral europeu.





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