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segunda-feira, maio 24, 2010

VIAGEM MUITO PERIGOSA

Gilvam Borges


Da equipe de articulistas



Sábado, dia 15 de maio. Eram dez horas quando decolamos do aeroporto internacional de Macapá, com destino ao município de Amapá. Às onze já estávamos em uma voadeira, eu, o engenheiro Ozias, o projetista Carlos, o cinegrafista Leno e o prático João que pilotava a pequena lancha a caminho do Sucuriju. Cerca de três horas e meia depois, encalhamos em um banco de areia.

Já anoitecia, por volta das dezoito horas, quando a maré subiu. Vinte minutos depois a primeira onda da pororoca nos alcançou e na terceira, quando caía um temporal medonho, fomos arremessados, batendo em um tronco, e a voadeira afundou. Ao longe avistei uma luz e seguimos em direção a ela. Eram dois pescadores que nos socorreram. Ficamos na feitoria deles. Nuvens de insetos nos atacaram a noite toda, muriçocas, carapanãs, bijugós e outros que não sei o nome.

Os dois pescadores foram buscar ajuda no Sucuriju. Uma embarcação chegou ao meio dia e trinta, e nos le-vou para a vila.

Nessas atribulações onde quase perdi a vida, encontrei muito conforto no bem querer dos amigos, na solidariedade dos que mesmo não comungando do nosso dia a dia, oraram para que eu e todos que estavam comigo estívessemos bem, voltássemos vivos.

Para os que torceram pelo pior, tenho somente o perdão, palavra tão difícil de ser assimilada por muitos, mas que é uma constante na minha vida, graças a Deus e a fé que trago no peito. Talvez por isso que me sejam dadas tantas oportunidades, tantos caminhos a seguir.

Muitos pensam que tudo está às mil maravilhas no Sucuriju. É muito bom achar isso, quando se pode tomar uma chuveirada, beber água, lavar roupa, lavar o rosto, etc. Coisas da rotina de quem assiste aos problemas alheios pela televisão, sentado numa confortável poltrona ou num macio sofá. Mas não para quem foi lá, passou dias vivendo de igual para igual e quis contribuir para alterar o quadro atual. Mesmo porque é uma mudança possível. E não sou homem de lavar as mãos seja em água salgada ou doce, diante dos problemas.

Entre a vida e a morte há uma linha tênue. A coragem de ir sempre em busca do que parece impossível, é condição básica para os que acreditam na vida eterna. Não dá para ser diferente, pois se a morte é uma passagem, a vida torna-se um experimento constante desse grande self-service que é o mundo. E mesmo os melhores planos padecem da incerteza, pois tudo pode acontecer.

Só possui história quem experimenta para poder um dia contar aos seus descendentes que a vida é um constante dar e tirar. Assim temos que estar preparados para o desencarno, deixando essa matéria e seguindo rumo ao infinito.

Vi Ulisses Guimarães me acenando, para que eu pudesse integrar uma grande legião invisível mundo do além. Se nada se cria tudo se transforma, então nada morre para sempre, o que ocorre é somente uma transformação. Assim, em toda morte, deve haver uma nova vida. Esta é a esperança do ser humano que crê em Deus.

Tenho um bom humor nato e isso é bom porque acarreta a amenização das circunstâncias adversas. Fatos da vida são fatos da vida, o que vamos fazer? Melhor aproveitarmos as experiências vivenciadas e no balanço de perdas e ganhos coletar os saldos positivos. Neste caso, um saldo altamente positivo: todas as vidas foram preservadas, inclusive a minha. Agora temos que agradecer a Deus, sorrir e seguir em frente.



Gilvam Borges

Senador da República pelo PMDB-AP; coordenador da Bancada

Parlamentar Amapaense em Brasília

E-mail: senadorgilvam@gmail.com

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