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quinta-feira, junho 03, 2010

MÉDICO TAMBÉM TEM SAUDADE - DR. EDUARDO COSTA LEMBRA.

A minha Macapá.
Prof. Dr. Eduardo Augusto da Silva Costa* (ecosta@ufpa.br)

Após três semanas ausente, devido viagem em função de doença em familiares, voltei. E dessa vez não tive tempo de escrever nem dentro dos aviões como de costume (para cumprir meu compromisso semanal com esta coluna), cheguei na quinta e fui tomar o café da tarde na Gazeta para me atualizar, e, na conversa de todos senti um grande sentimento de amapalidade em razão de comentário infeliz de um goiano a respeito da nossa terra. Comecei a pensar e voltei ao tempo de minha infância aqui, aí pensei, vou escrever sobre a minha cidade de Macapá e deixar a gripe suína para a semana que vem, sem antes avisar que todos devem ser vacinados, pois a doença é muito grave e mata. Bem, ao assunto, nasci como hoje em um dezoito de abril, no hospital geral. De minhas primeiras lembranças vem à memória o festejo da copa de 1958, pois a casa da vó Maria era no lado do café society, onda a vida acontecia naquela época. A outra vó, a Deolinda morava em frente da casa do Mestre Oscar. Lembro de brincar com o sapo da frente dos correios, de passar por debaixo da barriga dos leões do fórum, onde hoje é a OAB, de estudar na Escola Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, no igarapé das mulheres das Deusas e Margaridas, dos colegas de infância da escola e do bairro, ainda sou capaz de lembrar alguns nomes, do João Cabral (que morreu servindo o exército num acidente na guerrilha do Araguaia), que era um super amigo e muito bom de bola, da mesma época, o Cristovão, a Lindalva, o Orlanil, o Zé Raimundo, a Bela, a Sônia, a Graciete, o Lindolfo, o Cazuza, o Bebé, a Maria José, a Iaraci, a Jurema, o Arigó, o meu primo Manoel, o Carlão, o Odilon, o Lelê, o Lúcio, o Romero e o Camarão que era mais velho e maior, sendo por isso o responsável por bater o sino da igreja. Na nossa rua tinha uma figura folclórica, o Rocky Lane (não sei seu verdadeiro nome), mas lembro de jogarmos bola na rua descalços e ele de meião e chuteiras, e indo assistir o filme do Zorro, vestido de Zorro. Naquela época íamos nos domingos para fora da cidade, tomar banho no pacoval, muito longe, pois a cidade acabava no campo do América, atrás da igreja de São Benedito, ou para o outro lado muito mais longe, a praia do Araxá; às vezes íamos tomar banho na prainha da Fortaleza, Fortaleza que tinha um farol e os baluartes eram cor de tijolo. Nas noites de lua vermelha e grande batíamos lata pro mundo não acabar e quando jogávamos futebol na praia do trapiche ninguém chegava perto da pedra do guindaste, hoje substituída por concreto onde está a estátua de São José, pois ela era encantada, quando a bola ia em sua direção íamos em grupo buscá-la, ninguém se aproximava sozinho. Nos domingos, depois da missa das oito, que disputávamos para ajudar como coroinhas, pois quase todos éramos coroinhas e/ou escoteiros, íamos ao cine João XXIII de manhã, que tinha sempre um seriado após o filme e ao cine Macapá à tarde, onde um dos rituais era a troca de gibis na porta. No futebol, tinha o Macapá, o Amapá Clube, o Cea, o Latitude Zéro, o América, o Santana, o Trem, mas o nosso sonho era jogar no Juventus, que tinha o Wanderley, o Magalhães e o Caboclinho, só de goleiros além do cracaço Orlando Torres. Nessa época o Alceu, que depois se transformou no super-zagueiro, era apenas escoteiro, e lembro que o maior buraco cavado para a construção da piscina da sede da Veiga Cabral foi feito por ele. E por falar em escoteiros, que até hoje é a maior escola de formação de caráter no mundo, depois da família; lembro de meus chefes, o Batintin, hoje meu paciente, o Mozart, o Silva Luz, o Clodoaldo, o Humberto, o Noventa e Um e o Zé Roberto, este foi meu chefe quando eu era lobinho e que já devia ser meu amigo, pois foi em sua bicicleta que dei minhas primeiras pedaladas. Os clubes sociais eram o Sacy e o Sayonara, este com o papai sendo um dos fundadores e primeiro presidente, e ontem de manhã, conversando no escritório do Zé da Mido, vi uma foto dele, Zé, em que está o Aristarco, que era o vice-presidente, disso eu lembro bem pois um dos lugares mais amiúde das festas era a minha casa. Ah, ia esquecendo das namoradinhas ou quase namoradinhas, aquelas primeiras que a gente nunca esquece, a Iza, a Nazaré e a Idá. Quando não íamos ao cinema no domingo de manhã, íamos todos para o programa de auditório na rádio difusora, o clube do guri, onde o super-músico Aymoré acompanhava a todas as tentativas de cantarmos ao microfone. Enfim essa era a minha Macapá; só espero que depois deste texto, ninguém mais me pergunte se sou amapaense, para novamente eu ter de responder quase decorado, sou, você conhece o Osmar Júnior, a mãe dele é irmã da minha mãe. Conhece a Patrícia Bastos, o nosso bisavô é o mesmo, sabe a Telma Duarte presidente da confraria Tucujú, é minha irmã, e sabe o Dorimar da banca de jornais, a Ana Maria, mulher dele é minha prima. É isso! Vou parar por aqui, pois se deixar minha mente divagar não caberá o texto no espaço da coluna. Só o que me deixa um pouco triste é que trinta e sete anos depois, quando voltei, a cidade não mudou muito, mas isso é o assunto de outro artigo; pois eu te amo Macapá. Uma semana abençoada à todos. Semana que vem volto a falar de Macapá e de saúde.



* Médico Amapaense com Residência, Mestrado e Doutorado em Cardiologia

Professor Associado, Presidente da Comissão de Pós-Graduação (Mestrado e Doutorado) e

Coordenador da Disciplina de Cardiologia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Pará.

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