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quinta-feira, junho 03, 2010

NÃO FUME - O DR. EDUARDO COSTA RECOMENDA.

O Cigarro, de Fato, Faz Tanto Mal?

* Prof. Dr. Eduardo Augusto da Silva Costa (eascosta@cardiol.br)


“Beijar um fumante equivale a lamber um cinzeiro”, esta é uma frase que choca as pessoas, mas é comum no meio científico atualmente, tudo devido ao elevado risco para entupimento de artérias. Mas esta história é recente, se é que eu posso chamar de recente trinta anos. Mas, quando terminei o curso de medicina em dezembro de 1978, todos os meus livros da época, que comentavam sobre cigarros não o relacionavam a doenças do coração, em todos eles, a preocupação era com o enfisema pulmonar e o câncer de pulmão, este devido aos níveis de alcatrão. Por este motivo, na época, surgiram os cigarros de baixo teor (de alcatrão), o Free, o Galaxie, etc..., e as pessoas pensavam que estavam livres do risco de ter doença. O fato é que, naquela época, fumar ainda era um hábito totalmente aceito pela sociedade, isto causado pelos exemplos do cinema e da televisão; não se podia imaginar um ator que não fumasse, assim nos filmes clássicos como Casablanca, Suplício de Uma Saudade, Cidadão Kane, etc..., os atores fumavam e nós copiávamos os seus hábitos. Uma vez eu perguntei para uma paciente minha, que era atriz da TV Globo, porque as pessoas fumavam nas cenas das novelas, e ela me disse que era por que a maioria dos atores não sabia representar sem algo na mão, por conseguinte o cigarro era essencial. Bem! Continuando dentro da medicina, na segunda metade dos anos 70 fizeram um estudo para avaliar os pacientes que tinham sido operados do coração e tinham colocado pontes de safena, que era na época praticamente o único tratamento efetivo para doença aterosclerótica coronária, cirurgia que completava 10 anos de existência (Foi inventada por um argentino em 1967). O resultado foi muito preocupante porque, para aquela amostra, um número muito grande de pessoas operadas, tiveram as pontes de safena obstruídas, e então se iniciou outro estudo para verificar que fatores causavam a obstrução das pontes. O resultado foi publicado no início dos anos 80, e a conclusão foi drástica, pessoas que tinham pressão alta antes da cirurgia e que não a controlaram após, tiveram suas pontes obstruídas em aproximadamente 30 meses; nas pessoas que eram diabéticas e após a cirurgia não controlaram os níveis de glicose, as pontes fecharam em aproximadamente 24 meses; o pior resultado aconteceu com os fumantes que não pararam de fumar após a cirurgia, o fumo determinou o entupimento das pontes de safena a partir de 6 meses. Até então, nós médicos não sabíamos que o fumo causava aterosclerose e obstruía as artérias. Daí então começou esta campanha mundial contra o cigarro, pois em minha opinião, ele é o mais letal dos fatores de risco para doença cardíaca. Eu faço cateterismo de coração desde 1979 e nunca vi um fumante com artérias coronárias normais nos exames. É claro que se uma pessoa faz cateterismo é por que está doente, porém esporadicamente encontramos alguém com coronárias normais nos exames, e, pelo menos nos que eu faço, estes com coronárias normais são os não-fumantes, pois a nicotina fere o lado de dentro das artérias, fator que vai gerar a formação de placas ateromatosas que futuramente vão causar a obstrução das mesmas, ocasionando isquemia e infarto no coração, acidente vascular no cérebro ou trombose em qualquer artéria do corpo. Portanto, além de causar inexoravelmente enfisema no pulmão, e poder causar cânceres em diversos locais, como na boca, na língua, na laringe, no esôfago, no estômago, no pâncreas, nos intestinos, na mama, no colo do útero, no reto, na próstata, na pele, etc... e ser co-responsável por doenças tipo psoríase, a mortalidade determinada por esse vício é muito maior pela doença do coração. Por todos esses motivos de risco e por ser hoje um hábito anti-higiênico, é que costumamos usar a frase inicial deste texto, “beijar um fumante equivale a lamber um cinzeiro”. Na próxima semana vou comentar como parar de fumar.





*Médico Amapaense com Residência, Mestrado e Doutorado em Cardiologia

Professor de Cardiologia e Presidente da Comissão de

Pós-Graduação (Mestrado e Doutorado) da

Disciplina de Cardiologia da Faculdade de Medicina da UFPA.

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