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quinta-feira, junho 03, 2010

PRESSÃO ARTERIAL - DR. EDUARDO COSTA ENSINA.

Pressão Alta – Verdades e Mitos

* Prof. Dr. Eduardo Augusto da Silva Costa (e-mail: eascosta@cardiol.br)



“-Meu filho não pode tomar café quente e sair na chuva”..., esta era uma frase comum da tia Iaiá, como era conhecida na cidade minha avó Maria Augusta que morava ali no lado do Café Society na atual Rua Tiradentes, associada a outras frases como: “não pode abrir a geladeira suado ou com o corpo quente”...”não pode tomar banho logo depois do almoço”...que, segundo meu filho Diogo Henrique, que está sentado na minha frente enquanto escrevo, lembrou agora, que ouviu também esses comentários da bisavó. Mas, provavelmente todas as avós e bisavós falaram essas frases e talvez ainda falem até hoje, pois o resultado disso era uma “congestão”, termo que naquela época traduzia um acidente vascular cerebral, que também já foi chamado de “estupor” e “derrame”. Bem, e isso podia acontecer mesmo, cientificamente falando, ...era ou é verdade? Resposta: é verdade. E por que isso pode acontecer? Resposta: por causa da pressão alta, é porque a pressão alta não dá sinais de que está presente na gente, por isso é uma doença muito traiçoeira...nós não sentimos nada, nada mesmo. Eu, que sou médico há 31 anos, passei uns 10 anos para acreditar que pressão alta não dá sintomas, as pessoas não sentem nada...desculpem a redundância do assunto, mas é para fixar o conhecimento, ou seja, quando temos pressão alta não sentimos nada. Aproximadamente 40% das pessoas adultas do mundo todo tem pressão alta, 40% é 2 pessoas em cada cinco adultos, ou 4 em cada 10; provavelmente no quarteirão que você leitor deste artigo mora, existem mais pessoas hipertensas (termo usado para quem tem pressão alta) do que casas, ou seja tem muita gente, muita gente mesmo com pressão alta. E a hipertensão é uma doença herdada geneticamente, dos nossos antepassados da pré-história, que veio passando até nossos dias; por conseguinte, nós não temos culpa de tê-la. Mas naqueles que a tem é obrigatório, vou repetir, OBRIGATÓRIO, o tratamento, e esse tratamento é contínuo, por enquanto, por toda a vida, todos os dias temos que tomar um ou uns comprimidos e um copo d’água e se estivermos acima do peso, emagrecer, pois o único fator que diminui pressão fora os remédios é a perda de peso.

Entretanto, dentro do assunto é importante saber mais outros detalhes a respeito da doença. Inicialmente devemos saber que pressão normal é qualquer pressão de 120 x 80 mmHg (oficialmente é assim que se escreve) mas vamos chamar de 12 x 8, para baixo; assim 11 x 7, 10 x 6, até 9 x 5, desde que a pessoa esteja bem, são pressões normais. Agora acima de 12 x 8 a pressão está alta. Somente nos idosos de hoje, que não foram tratados direitos na vida, se permite 14 x 8. Então quando a pressão está acima de 12 x 8 está alta, desde que medida em repouso, pois a pressão varia o dia todo, basta a chateação de um engarrafamento de trânsito para a pressão máxima ir a 16; se encontrarmos com a namorada crônica que não casamos, a pressão vai a 18 (só esta emoçãozinha), quando fazemos exercícios a pressão pode ir até 22; na atividade sexual com a pessoa de rotina a pressão pode ir até 23, se não for a pessoa de rotina pode ir próximo de 30. Quando levamos um susto pode ir até 25 e quando passamos do calor intenso para o frio, exemplo; sair de uma sauna a 50 graus e pular numa piscina com água a 10 graus, a pressão pode ir próximo a 40. Um detalhe muito importante, quando estamos com dor, qualquer dor, a pressão fica entre 16 e 22, por isso que antigamente todo mundo pensava que dor de cabeça era sintoma de pressão alta, mas geralmente é o inverso, a dor de cabeça faz pressão subir, então quando estivermos com dor de cabeça e pressão alta, primeiro tratamos a dor de cabeça. Eu já tive paciente com pressão de 30 x 18 que estava contando piada, e este ano uma paciente com 29 x 16, que só veio trazer a mãe para consulta e no final pediu para eu medir a pressão, sem estar sentindo nada. Verdadeiramente só existe uma maneira de sabermos se a pressão está alta, é medindo a pressão; fato que ficou comum nos últimos 15 anos, mas que antes era raro, pois quantas pessoas passaram pela vida sem medir a pressão. E aí voltamos para o primeiro parágrafo,...quem é que tomou café quente e saiu na chuva e teve um acidente vascular cerebral, justamente o indivíduo que tinha pressão muito alta e não sabia ou nunca soube, pois antes dos anos 90 ninguém media a pressão de rotina como hoje, só quando estava doente e ia ao médico, e aí praticamente ninguém sabia que tinha a doença até o momento do acidente. Continuaremos o assunto na semana que vem. Uma semana com saúde e fiquem com Deus.



*Médico Amapaense com Residência, Mestrado e Doutorado em Cardiologia / Professor de Cardiologia e Presidente da Comissão de Pós-Graduação (Mestrado e Doutorado) da Disciplina de Cardiologia da Faculdade de Medicina da UFPA.




Pressão Alta - Verdades e Mitos - Parte II




Espero que o natal de todos tenha sido muito feliz. Estou comentando agora porque houve um problema na entrega do artigo na semana passada e não comentei a data, mas espero que a boa vontade de fazer sempre o bem que acontece em todos, nesta semana, se prorrogue por todo o ano de 2010. Mas vamos ao assunto: “-Meu filho não pode tomar café quente e sair na chuva”..., na semana passada iniciei o artigo com esta frase da minha avó e provavelmente de todas as avós daquela época, e comentei a respeito da pressão alta, doença que não dá sintomas, exceto na hora da complicação, que pode ser um acidente vascular cerebral, conhecido por “estupor”, “derrame” ou “congestão”, pode ser um infarto agudo do miocárdio, um edema agudo de pulmão (que é o máximo da insuficiência cardíaca), ou insuficiência renal, que são as complicações decorrentes da lesão causada pela pressão alta nesses órgãos e aparelhos do nosso organismo. E, voltando ao assunto, como saber se temos pressão alta? Só há um jeito de saber: medindo a pressão, que hoje deve ter uma primeira vez na adolescência, depois nos vinte anos e principalmente aos 35 anos nos homens e 45 nas mulheres, idade em que a doença se instala no ser humano. Em 90% dos casos a causa é genética, ou seja, a herdamos de nossos antepassados. Somente em 10% das pessoas com hipertensão a causa pode ser conhecida, isto em função de alguma doença que faz com que a pressão aumente, geralmente doenças renais e endócrinas (das glândulas), às vezes tumores que secretam adrenalina, que é uma substância que aumenta a pressão ou defeitos na artéria aorta, que pode apresentar uma constrição chamada coarctação que também aumenta a pressão. Mas, o importante após descobrir que a pessoa é hipertensa é o tratamento, que até o momento deve ser contínuo, todos os dias da vida. Por que até o momento? Porque na evolução do conhecimento a qualquer momento pode se descobrir a cura definitiva. Mas voltando ao tratamento...as pessoas quando ficam sabendo que terão que usar medicamentos todos os dias ficam algo deprimidas, entram em discreto “parafuso” e perguntam: Pra sempre???...Eu costumo comentar: - Existem coisas que fazemos todos os dias e são pra sempre...exemplos: escovamos os dentes, tomamos banho, homens fazem a barba, mulheres tem que pintar os olhos e os lábios, fazemos pipi, fazemos cocô, tomamos café, água, almoçamos, etc...todos os dias...quando temos hipertensão acrescentamos um item a mais no café da manhã, o remédio, que ainda bem, já que nada é de graça, é pago pelo governo federal e recebemos nos postos de saúde de todo o Brasil, e controlando a doença a vida é normal, podemos fazer exercícios, correr, nos zangarmos, torcer pelo flamengo, enfim, fazer qualquer coisa ruim que o nosso organismo, com a pressão controlada (em 12 x 8 ou 11 x 7 ou 10 x 6), agüenta. E como se trata a pressão? ....Bem! Em primeiro lugar, se estivermos acima do peso, é obrigatória a perda dos quilos a mais e a seguir tomarmos o remédio que o médico prescrever. Às vezes precisamos de algumas semanas para adequar as doses dos remédios para a normalização. Eu, em toda a minha vida de médico nunca vi uma pressão não controlar, às vezes demorou de um a dois meses para acertar a dose dos remédios, mas todos controlaram. E o que é mais importante, depois disso houve regressão do acometimento dos órgãos, o coração diminuiu de tamanho, o fundo de olho (exame de rotina em hipertensos) melhorou, enfim há uma melhora em todo o organismo, principalmente se os rins ainda não entraram em sofrimento, pois nestes a reversão do acometimento é mais difícil, uma das razões para tratarmos a doença o mais precoce possível. Então, caro leitor, como o número de hipertensos no mundo varia próximo de 40%, provavelmente em nossas famílias a doença está presente e precisamos cuidar da maneira mais séria possível, pois como já citei várias vezes, a doença praticamente não tem sintomas, e se a pessoa hipertensa não for civilizada, não vai tomar remédios para uma doença que ela não sente, e aí que mora o perigo...muitas vezes de vida. Na próxima semana vou comentar a respeito do tratamento da emergência hipertensiva, que eu acho que todas as pessoas devem saber. Como a quantidade de e-mails que recebi foi grande, acho que temos um grande rol de leitores semanais, alguns pedindo a repetição de matérias, que vou aproveitar quando viajar longe ou sair de férias.

Que todos tenham um 2010 com muita saúde e iluminado diariamente com a presença de Deus.



*Médico Amapaense com Residência, Mestrado e Doutorado em Cardiologia / Professor de Cardiologia e Presidente da Comissão de Pós-Graduação (Mestrado e Doutorado) da Disciplina de Cardiologia da Faculdade de Medicina da UFPA.


Quando Tratar a Pressão Alta como Emergência




* Prof. Dr. Eduardo Augusto da Silva Costa




Mesmo voltando a morar em Macapá em 2002, tenho uma agenda social muito grande em Belém, pois estou amiúde na mídia local ou nacional, ora por pesquisas médicas, ora pela atividade como cardiologista, ora como hemodinamicista, ora como presidente de comissão de pós-graduação de medicina da universidade federal ou como membro do grupo de ouro; de tal forma que tenho que participar de batizados, cerimônias de formatura e posses de autoridades em todos os semestres. Mas um convite me chamou a atenção há alguns anos, pois fui insistentemente solicitado para o aniversário da matriarca de uma família que anteriormente nunca havia me convidado para nada...a insistência foi tão grande que três dos filhos me ligaram a noite para eu anotar a data no meu calendário anual de parede e dois foram no meu consultório confirmar o convite...o que me deixou deveras enaltecido com tal atenção. A festa era um almoço no domingo, e chegando tal dia estava eu lá, no horário combinado. Quando cheguei, achei estranho todo mundo falar “chegou o médico, agora podemos começar”, e chamaram os filhos da senhora, que ela não via há anos, para aparecerem....e pediram para eu medir a pressão da mãe...ou seja, eu só fui convidado pela preocupação deles caso ela passasse mal ou a pressão subisse... eu fingi (por formação) que não ficara chateado e depois mandei a conta dos serviços profissionais...eles não pagaram de imediato e deixaram de falar comigo por uns anos até um deles ser acometido de infarto do miocárdio e a família chegar desesperadamente na minha casa como se nada tivesse acontecido. Lembrei dessa história, que aconteceu em Belém, em 1995, para iniciar as frases rotineiras na vida de um médico, pois é muito comum um paciente me ligar e dizer “Professor, a minha pressão está 17 por 9, o que é que eu faço, tomo mais um comprimido do meu remédio ou vou para o hospital” ou “estou com uma tremenda dor de cabeça e minha pressão está 20 por 10” ou “morreu alguém da minha família e fui medir a pressão e está 22 por 11, o que faço...” ou a da mãe citada, que ficou 23 por 9...Bem! Como já citei na matéria da semana passada, quaisquer esforços, dores e/ou emoções normalmente aumentam a pressão a esses níveis citados nas frases. E o que fazemos? Resposta: Nada! Nada em parte, pois tratamos com analgésicos a tremenda dor de cabeça, consolamos os que perderam alguém querido e às vezes até, se necessário usamos um antidepressivo para resolver um estresse, o que a cada dia, no mundo atual, está se transformando em uma quase rotina (comentarei mais esse assunto quando escrever sobre estresse). E por que não fazemos nada, ...porque, e já estou sendo redundante, quando estas coisas acontecem a subida da pressão é uma reação humana normal, ...seria anormal se num velório os parentes do morto estivessem com a pressão normal, que significaria que não estão sentindo nenhuma emoção.

Bem! E quando tratar a pressão alta como emergência? Quando ocorrerem sintomas de lesões nos órgãos e aparelhos lesados pela pressão...assim, quando o paciente estiver com pressão alta e com falta de ar (o termo médico é dispnéia), significa que o coração não está conseguindo bombear o sangue normalmente e está havendo acúmulo da parte líquida do sangue nos pulmões, isto é emergência. Quando o paciente apresentar dor no meio do peito, alteração no eletrocardiograma e pressão alta, também é emergência, assim como, quando acontecer dor de cabeça muito importante, com alteração da visão, tonturas, vômitos, com alteração do fundo de olho e pressão alta. Outras situações são quando o paciente apresentar junto com a pressão alta, um acidente vascular cerebral, cuja apresentação geralmente ocorre com paralisação de um lado do corpo, dificuldade de falar e desvio da boca para um lado; ou quando o paciente apresentar pressão alta e insuficiência renal, com inchaços (o termo médico é edema) pelo corpo e alterações dos exames de laboratório que avaliam a função dos rins. Resumindo, em todos estes casos citados, o tratamento da pressão deve ser imediato, por médico e no hospital, pois geralmente se faz necessário o uso de remédios por injeções e “soros” e geralmente com o paciente a seguir internado na UTI (unidade de tratamento intensivo), para ser observado continuamente pelo médico, pois quaisquer desses quadros são graves e com risco de vida. Eu fiz todo esse comentário para informar que pressão alta sem um quadro desses geralmente não é emergência, é só tomar o remédio normal e esperar ela baixar, ou só esperar ela baixar após a causa que a fez subir, como encontrar vários filhos que você não vê há anos, como da senhora do começo do texto. Desculpem, mas na semana passada devido “problemas” com a minha internet o artigo não foi publicado. Continuo com o mesmo assunto na semana que vem. Fiquem com Deus.



*Médico Amapaense com Residência, Mestrado e Doutorado em Cardiologia / Professor de Cardiologia e Presidente da Comissão de Pós-Graduação (Mestrado e Doutorado) da Disciplina de Cardiologia da Faculdade de Medicina da UFPA.

2 comentários:

Anônimo disse...

Dr. Meu nome é Clarice e faço tratamento com Olmetec 20 mg .
Tomei quarta e quinta o remédio Arcoxia 90 mg , 01 por dia .
Hoje passei mal , me deu um mal estar , uma sensação muito estranha , não era tontura , uma moleza , não sei . Aí eu fico apavorada e começo a ficar com medo . Medi a pressão umas 5 vezes e variou de 15X9 a 16X10 . Meu médico disse que quando estivesse alta por algum motivo , para tomar captopril 25 mg em casa mesmo . O que o Sr. acha ? Não tomei o remédio por medo , decidi esperar até amanhã cedo e tomar meu olmetec mesmo . Fiz o correto ? Devo me preocupar quando estiver com esta sensação estranha ( não é a primeira vez ) e medir e estiver neste nivel ? Grata !!!

Anônimo disse...

Olá boa noite, meu nome é Tatiana tenho 27 anos e gostaria de esclarecer uma dúvida, sempre que afiro minha pressão a máxima está entre 11 e 12 mais a mínima está entre10 e 11. Quais os riscos?