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sexta-feira, setembro 17, 2010

O "BALUARTE" CONVERSOU COM ANTONIO MUNHOZ

“O BALUARTE” CONVERSA COM ANTONIO MUNHOZ****
Ano 1973

B-Professor o senhor que freqüentou os meios sociais, participando daquilo que se convencionou chamar de “society”, poderá nos dizer qual o maior acontecimento do ano passado, em sociedade, e do qual o senhor participou?

AM- Indiscutivelmente foi o banquete da “Hostess do Ano”, Sra. Maria do Faro Chaves, esposa do Governador Aloysio Chaves, na belíssima casa de Elias e Maria Psaros, em Belém. Foi uma noite inesquecível, um acontecimento digno de qualquer cidade civilizada do mundo.

B- Se o senhor, aqui em Macapá, fosse escolher uma anfitrioa de categoria, que o senhor escolheria como “Hostess” perfeita?

Do Dr. Nilder Santiago. É uma anfitrioa de muita classe, recebendo sempre com muita categoria. Apontaria, ainda, a Sra. Leila Gammachi, outra dama que recebe maravilhosamente bem. Jantares sensacionais eram os de Madame Jacqueline Ferry, onde, além do prazer gustativo, havia também o deleite intelectual.

B- Qual “a mulher das mais bela” e “a mais elegante” das suas relações de amizade?

AM- A mais bela, por sinal, belíssima, é Lucia Candida Meira, esposa de Paulo Meira; bela em qualquer lugar do mundo. Quanto a mais elegante, sem sombra de duvida, é Francy Meira, esposa de Alcyr Meira; Francy é uma mulher elegantíssima, podre de chique, sensacional.

B- Para o senhor, qual a mais bonita e original cidade do mundo?

AM- É Veneza; cidade deslumbrante, que parece imaginada num momento de delírio. É única no mundo, com o fascínio de suas águas é cidade para se curtir intensamente. Veneza é cidade que se ama.

B- E que cidades do mundo, o senhor, tranquilamente, moraria?

AM- Paris e Roma: são duas cidades que me fascinam. Paris é ainda o coração da Europa e onde a vida parece que tem mais sentido. Roma é o coração da Cristandade. Com sua história seus monumentos, sua arte, Roma é uma sedução contínua.

B- Qual a mais linda igreja do mundo?

AM- Talvez seja a catedral de Chartres. Acho-a deslumbrante. Os vitrais são, sem duvida alguma, os mais belos do mundo. Como escreveu acertadamente Êmile Mâle, “a catedral de Chartres é o próprio pensamento da Idade Média que se faz visível”.

B- O senhor já trabalhou, há tempos, na Policia, não é verdade? Que é que o senhor fazia?

AM- De fato, nos idos de 60, fui Delegado de Ordem Politica e Social. Havia terminado a nossa velha Faculdade de Direito, em Belém, de tal forma que a experiência foi proveitosa, muito valida mesmo. Foi o meu primeiro trabalho. Tenho, inclusive, boas recordações dessa época.

B- Lindanor Celinae o cônego Ápio Campos escreveram, na época, a respeito de suas atividades policiais, não é certo?
AM- Sim, Lindanor Celina, que hoje mora em Paris, pedi que eu escrevesse sobre o “metier”, sugerindo-me até um titulo: “Romance Policial de Macapá”. Quanto ao cônego Ápio Campos, numa gozação absoluta, chegou a escrever uma crônica em “ A Provinia do Pará” , afirmando entre outras coisas, que eu andava prendendo muita gente e dava à policia local “um clima de cenáculo literário”. Dizia ainda que meu escrivão era quase um poeta, meus auxiliares aproveitavam as folgas para ler contos e romances, e chegou ao cumulo de afirmar que “os próprios encarcerados eram obrigados a ler, em obediência a uma portaria baixada, varias paginas de antologia por semana”.


B- Em Roma, o senhor já viu o Papa? Qual a sua opinião a respeito de Paulo VI?

AM- Já assisti a três audiências de Paulo VI; acho-o extraordinário. É realmente, um homem de Deus. O que tem feito pela paz do mundo é extraordinário. É uma figura venerável.

B- Gostaria que o senhor citasse cinco romanos importantes da literatura brasileira.

AM- “Memorias de um Sargento de Milicias”, de Manuel Antonio de Almeida; “O Ateneu”, de Raul Pompéia; “Memorias Póstumas de Brás Cubas” e “Dom Casmurro”, de Machado de Assis, e “O Encontro Marcado”, de Fernando Sabino.

B- Queremos duas obras primas da poesia brasileira.

AM- “Invenção de Orfeu”, de Jorge de Lima, e “Romanceiro da Inconfidência” , de Cecilia Meireles, a extraordinária poetisa morta em novembro de 1964.


B- Qual o filme mais corajoso do ano, na sua opinião?

AM- Sem discussão, “Salé ou 120 Dias de Sodoma”, de Pier Paolo Pasoline, que vi, em agosto do ano passado, em Paris. Em todos os sentidos é um dos filmes mais corajosos da história do Cinema. Com “Salé” o Cinema chegou ao máximo.

B- Outro filme importante visto, ultimamente, pelo senhor?

AM- “Travolti da un insolito destino nell’azurro mare d’agosto”, de Lina Wertmuller, a famosa diretora italiana de “Amor e Anarquia”. Vi-o em Lisboa, saindo eufórico do cinema. É um filme para se ver e meditar.

B- O senhor viu o “Ultimo Tango em Paris”? qual sua opinião?

AM- O discutido filme de Bernardo Derulucci é para quem vai atrás de pornografia, uma decepção. Sobretudo porque é uma obra séria, um estudo profundo sobre a solidão de um homem. “O Ultimo Tango em Paris” é um filme triste.

B- Que filmes o senhor já viu de Linda Lovelace, a rainha do pornô?

AM- Os dois mais celebres: “Deep Throat”, que é um dos clássicos da pornografia no cinema. Vi-o em 74, em San Francisco, na Califórnia; e o outro, ano passado, em Londres: “Linda Lovelace for President”.

B- Qual foi a melhor exposição de arte vista no passado?

AM- A de “Retratos”, de Ticiano, na Galeria Nacional, em Londres

B- Aqui em Macapá, o que o senhor acha do trabalho de Nina Barreto?

AM- É uma das maiores, aqui, da terra. Uma mulher de sensibilidade excepcional, de grande força criativa, e que, a cada exposição, nos surpreende com peças de uma beleza muito grande. Nina Barreto Nakaniski é uma artista de verdade.

B- Para terminar, um pensamento como corolário desta conversa.

AM- É de Ráissa Maritain o pensamento: “Nossos amigos fazem parte de nossa vida, e nossa vida explica nossas amizades”.

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