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sexta-feira, dezembro 10, 2010

04 EMBRO 2010 - DIÁRIO DO AMAPÁ

O DIAMANTEIRO.

Já deve estar nas livrarias o nosso livro Coletânea de Contistas do Meio do Mundo. Nosso sim, dezesseis outros autores, meu e, seu especialmente. Compre-o, leia-o, empreste-o dez vezes a diferentes leitores. Ganharemos todos.
Nele conto um conto bem interessante, uma inspiração nascida do encontro que tive com o Sr. Francisco (um ermitão) em Laranjal do Jari, num ponto qualquer da floresta densa, montana, a não mais que quarenta minutos de caminhada até a Vila Padaria. Embora esmirrado, frágil e velho Francisco me pareceu gigantesco.
Éramos uma equipe de zoneadores (Iepa, Ibge, Embrapa), ele um homem só. O mais sábio e prudente zelador de floresta que até hoje conheci. Sua casa de pau e palha a mais limpa que se pode imaginar em ambientes como aquele. Almoçamos com ele uma comida muito bem feita. Ninguém poderá ser tão cuidadoso com as palavras como ele.
Tangenciando seus segredos certamente o Sr. Francisco deixou-nos saber ter sido ele um garimpeiro “de profissão”, ter tido família, e que “vivia” bem ali. Dizendo-se muito velho, cansado e sem ninguém para chamar de seu convidou-nos a ver onde vicejavam alguans das “suas” mil e tantas arvores de cedro, muitas já com copas formadas outras, a maioria, uma vara de três metros procurando luz para “encopar”. Todas plantadas por ele, calmamente mostrava-nos e ensinava que aquelas arvores só chegariam ao corte em trinta anos.
Ora, como pode um homem velho e só plantar assim para o futuro adiante 30 anos? Essa foi época do auge do pedeessea e da minha necessidade diária de ler e estudar muito para dar conta do trabalho,,,, e de repente o encontro. Mas o imponderável é também surpreendente, pois que mais eu precisaria ver e ouvir para entender sustentabilidade? O Sr. Francisco era a um só tempo, diamante, diamantífero, garimpeiro e cuidador (diamanteiro) de diamantes. Os seus eram cedros!
Dentro e ao redor da casa do Sr. Francisco existia um porquinho do mato parecendo sua única companhia. Para sair do quintal de sua casa precisava escalar uma íngreme encosta de morro, do topo para abaixo a vista era bonita, mas viciada no brilho das folhas novas dos cedros (diamantes faiscando). Até nunca mais!!!
Seguimos dali para Padaria e de lá para Jarilandia, uma viagem de trabalho que nos consumiu quatro horas. Bolas!, eu não queria esquecer a história do Sr. Francisco e menos ainda distorcê-la muito, pelo quê a “roteirei” em minha caderneta de campo.
Depois a rabisquei, escrevi, digitei, guardei na gaveta dos contos que gosto de contar, e graças ao Bispo e turma (Pastana, Rostan, Alcineia, Ricardo e Eranandes) foi publicada. Está nas livrarias ou mais dias menos dias chega lá a estilização do que pude criar para eternizar o ermitão Francisco, seu porco do mato e seu jardim de cedros semeado no coração da floresta densa, montana, de Laranjal do Jari.
Mas compre já. Logo será edição esgotada.

Nota: Dia feliz o de ontem. Politicos (Dalto e Cristina), sambistas, povo e história se juntaram para corporificar o samba que se compõe, canta e dança no Amapá. A cultura molda uma sociedade, esta decide se quer ou não ser culta. Decidimos que sim.

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