MILLÔR (PASQUIM
Nº 17 – OUT. 1969)
A
MENTIRA:
É
a única verdade do mentiroso, já que, à força de mentir, ele não crê mais em
nada. A mentra é uma verdade que não esteve lá. O Balanço é uma mentira contábil.
A Fabula é uma mentira mitológica. O Romance é uma mentira literária. A democracia
é uma mentira política. Para vse distinguir um mentiroso de um coxo basta sair
correndo atrás dos dois.
O
SAPATO SEM SOLA:
É
uma invenção de Carlitos. Pois andar com sapatos sem sola é juntar à pobreza o ridículo
da pobreza. Uma das coisas que explica o gênio de Carlitos, de há muito um cara
apenas chato.
O
GRIFO:
Serve
para sublinhar certa intenção sutil. Acontecendo então que a intenção perde a
sutileza. Usa-se ainda para apontar, no meio de palavras nacionais, a apalavra
estrangeira e, no meio de palavras normais, a palavra estranha. O grifo é o
dedo-duro da linguagem gráfica.
O
PSICANALISTA:
É
um cliente que está do outro lado do guichê. Um paciente que conseguiu ser
internado. O inventor (repetidor) de nomes estranhos para maluquices comuns. Outrora
também chamadas falta de vergonha na cara. O psicanalista não faz caras, dá explicações
cinematográficas. É o concretista da loucura.
O
FALAR VAZIO:
Estamos
com texto. A bosta é que em alemão não dá pé porque as pessoas bombardearam a
gente faz ini é porque o que to muito que mais.
O
falar vazio é a profissão do século. Donde locutores que não sabem o que leem. Ibrahins
que não conhecem o que informam. Políticos que não pensam o que dizem. Propagandistas
que não compram o que anunciam.
Há
ainda um falar estratégico – que é falar enquanto se pensa como é que se sai
dessa.
O
homem que fala vazio diminui um pouco a sua função no dia em que descobre que isso
se chama psitacismo, a doença dos papagaios.
A
LINGUA PORTUGUESA:
Que
já foi propriedade do Antenor Nascente, hoje é propriedade do Aurelio Buarque. Que
obriga a gente a botar o acento onde bem lhe agrada. A exclamar como hem!,
chamar o Tarso de Vê* (bem aviado, esclareço) e a gritar pro garçom: “Vem cá
Garção”, o que é uma frescura que, vou te dizer, nem na França de madame
Pompidour. A Língua Portuguesa é ainda aquilo que, se não escrevêssemos nela,
seríamos todos escritores internacionais. Como se não houvesse escritores chineses.
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MILLÔR FERNANDES
- O PASQUIM, Nº 40 – MARÇO/ABRIL 1970.
O PASQUIM sabe de tudo e não quer entrar em
detalhe.
Nenhuma
legislação punitiva dá autoridade a quem não tem (Marechal Humberto Alencar Castelo
Branco)
Os
Estados Unidos preocupado com a maioria silenciosa. Os inimigos d’OPasquim preocupadíssimos
com esta minoria barulhenta.
O
PASQUIM, um caos para conferir.
O
PASQUIM – um pequeno enganador.
O
PASQUIM, um jornal ocidental e cristão.
N’O
PASQUIM os ratos não abandonam o navio (Sigmund).
Não
espere pelo Juízo Final: leia O PASQUIM.
O
PASQUIM – Um jornal que não ode ser lido pelas senhoras de Dores de Indaiá.
O
PASQUIM é filho do Tom Jobim (Caetano Veloso).
O
PASQUIM – um jornal que não é lido pelo Dr. Gustavo Corção.
Quem
não lê O PASQUIM também morre com a boca cheia de formiga.
O
PASQUIM – Um jornal lido até pelos seus colaboradores. Somos contra tudo o que
a gente pode ser contra.
O
PASQUIM não se responsabiliza pela opinião de seus colaboradores, aliás nem pelas
suas.
Se
o mundo fosse quadrado O PASQUIM também seria.
Tudo
na vida tem seu preço, o nosso é ...NCr$ 0,50.
O
PASQUIM é um produto do meio; também, ninguém é perfeito.
Sim,
os tempos mudaram. Antigamente, sair num pasquim era vergonha: hoje é honra.
Esta
é a realidade: Veja e Leia os Fatos & Fotos e as Manchetes por 500
cruzeiros.
O
PASQUIM: sátira afixada em lugar publico (Aurélio Buarque de Hollanda).
Aos
amigos tudo: aos inimigos, justiça.
Um comentário:
Professor!
Por favor publique a carta de chico anysio. Estou a procura de uma carta dele ao pasquim a tempos, gostaria de saber se será a que o sr. publicará
Desde ja agradeço
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