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sábado, maio 05, 2012

CORRUPÇÃO



Escrevi e publiquei este texto em 2004, num momento em que a corrupção desenfreada e às claras indignava o país. Parece que tudo piorou. Impressionante mesmo são as "explicações", os despachos e a penalidades que as autoridades deram e dão para os casos cabeludos de corrupção. Sigilo de justiça até parece que deixa de ser um direito para se trasformar numa senha. Tão impressionante tem sido o quanto o Brasil resiste a tudo isso: enrola mas não quebra. 
Nem quis ilustrar o artigo abaixo para não induzir interpretações que não se confirmem. Leia abaixo e faça as contas.


CRONOLOGIA DO EMPOBRECIMENTO

O que devia nos indignar e até nos revoltar é saber que o Brasil é pobre por causa da corrupção e não pelo analfabetismo ou pela inquestionável fadiga do nosso sistema político de governança, embora também sejam sim fatores negativos no processo de desenvolvimento do Brasil. A pobreza está instalada no país desde a época do descobrimento, quando foi aberta e jamais fechada a enorme porta da corrupção nacional.
Embarque e viaje no teclado da sua calculadora relembrando e acumulando os macro números da corrupção nacional, de 87 a 2002, considerando apenas os casos que ganharam mídia nos últimos quinze anos:
- Em 1987 tivemos o espetáculo das bem boladas fraudes cambiais que gravitando no vácuo da inflação desenfreada impôs ao país uma perda não inferior a 550 milhões de dólares. A Corretora Interunion, os senhores Artur Falk e Sérgio de Paulo Pacheco foram protagonistas do golpe. Mas tudo deu em nada.
- Em 1989 a Seleta Comercio e Indústria do Sr. Naji Nahas deu um golpe de 38 milhões de cruzados. Quebrou a Bolsa de Valores e virou o mercado de ponta cabeça. Nahas foi sentenciado, a sentença foi anulada e tudo bem até que um seu prédio caiu sobre vidas.
- 1982, estoura o escândalo das Carioquinhas no Rio de Janeiro. Cerca de 65 milhões de dólares fluíram pelo ralo da filantrópica Xapuri – lembram-se? Ninguém punido.
- Entre 1982 e 1988 estourou o caso das contas CC5. O Procurador Celso Três (já atuou em Macapá) estimou o rombo em 124 bilhões de dólares. Desses o Banestado lavou 12 bilhões e o Banco Araucária outros 2,3 bilhões de dólares. O Procurador Celso Três deixou fora dessa conta todos os golpes inferiores a 150 mil dólares - fichinhas. Há uma CPI remexendo esse caso, mas por enquanto é só.
- 1990/91 viemos a conhecer a grande fraude contra o INSS: cerca de 500 milhões de dólares desviados da Previdência pela quadrilha liderada por Ilson Escócia, Jorgina de Freitas e Nestor do Nascimento.
- O caso PC Farias–Collor surgiu em 1991/92, deu no que deu, mas consumiu (e sumiu com) 500 milhões de dólares. 
- Veio o caso Banco Nacional em 1995 com a conclusão de que 6 bilhões de dólares escaparam do país através do Interbank, no Paraguai.
- Em 1996 estourou o caso dos Precatórios – mais de 4,5 milhões de reais desapareceram. Ninguém algemado.
- Em 1997 buzinaram do exterior para cá que havia uma conta com 200 milhões de dólares em nome da Red Ruby (atribuída ao Sr. Maluf), surrupiados de cá e depositados lá.
- Em 1998 conhecemos o caso Lalau-Luiz Estevão e outros, protagonistas do desvio de 169 milhões de reais. Lalau e Incal esvaziaram a acusação de peculato e tudo ficou bem. Lalau poderá vestir o uniforme listrado, mas a grana..
- Vem 1999 e com ele o caso Cacciola (Bancos Marka e Font Cidan) significando mais um rombo de 1 bilhão e 550 milhões de reais. Cacciola vive bem, na Itália.
- O caso Sudam veio em 2001 impondo uma perda de mais 2 bilhões e 100 milhões de reais. Ficamos sem o dinheiro e sem Sudam., só isso.
- Na era FHC vieram a público os casos das privatizações emergindo deles o sr. Ricardo Sérgio declarado o mais novo rico nacional pela Receita Federal e Ministério Público Federal. Vários bilhões mudaram de mãos.
- Em 2002 surge o rumoroso caso Henrique Alves, o potiguar de 15 milhões de dólares. Ele quase foi vice na chapa presidencial de José Serra.
- Recentemente o INSS foi vitima de outra grande fraude, a que gerou os PASs (Pagamentos Alternativos de Benefícios) e os “Pedágios” (cobrança extra a prestadoras de serviços). Neste caso a grande imprensa nacional envolveu o nome da deputada Laura Carneiro e de seu ex-marido Luiz Etéreo Teixeira Ventura. Milhões de reais sumiram na poeira.
Estivemos falando das seguintes cifras desviadas da finalidade: 131 bilhões e 930 milhões de dólares; 8 bilhões e 269 milhões de reais e mais 38 milhões de cruzados (que não sei converter).                     
Quer dizer: Não é nada não é nada, não é nada mesmo nesse paraíso de impunidade chamado Brasil que já não memoriza e nem faz questão dos “pequenos” golpes.

2004

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