Passados tantos anos sei que não vamos mais encontrar o Dri por aí,
aquele sujeito sempre pronto, eterno aprendiz de obesidade, roupas simples, às
vezes social, parecendo circunspecto, ultimamente dirigindo bonachão um Voyage
verde musgo em cujo interior transportava carinho para os amigos, amor para a
família, respeito para os pais, um projeto novo para os negócios.
Esse Dri a que me refiro era sim um sujeito
parcimonioso, cismando tornava-se drincoso de quatro costados, se quisesse.
Levava no bolso todas as ruas, todos os bares, todos os serenos e todos os
causos recentes de Volta Grande. Era, por assim dizer, um sujeito dentro dos
conformes.
A familia: Dri - Ana - Maria - Beto (aniversáro do Beto)
Em silencio tantas vezes nos disse que respirava
Volta Grande, dormia Estrela Dalva, sonhava Pirapetinga, precisava Além
Paraíba, acordava Volta Grande. Dizer que o Dri não vivia Volta Grande é
negá-lo por inteiro.
Dri - o sei pelo Zé Geraldo, pelo Cláudio, pelo
Tuim, pelo Du, seus irmãos de saudade integral e de sangue – era desses que
interpretava o pio das andorinhas da torre vizinha do seu bar: “É pardal de
encanto que comeu seus ovos . . . agorinha!”
Falar mal do Dri? Só se dissesse que não curtia
andar a pé a Humberto Mauro até a estrada grande ou vencer a Arthur Pedra que
se desmancha antes de encontrar o grande Rio Angu ou aventurar-se na estrada de
poeira tangenciadora da Vila Maria que poderia levá-lo à “água viva” dos seus
ancestrais. Realmente ele não era muito afeito a andar
a pé. Casacalho do chão machucava-lhe os desejos.
Corria a Copa do Mundo de 1994. Futebol era uma de sua paixões: grande vascaino.
Dri, se um dia sequer se tenha feito blasfemoso
teria dito: “É fora dos conformes que me amedronta as ruas voltagrande, estreladalva, pirapetinga; os becos providência,
trimonte, floresta, são geraldo”. Por que? Porque isso sou eu, pertenço a isso.
Longe de blasfemoso o Dri gostava mesmo era de
ficar parecendo um trinca-ferro cantador avançando contra o azul claro dos céus
de Volta Grande. Só de vez em quando batia asas... se precisasse ganhar
velocidade.
Ah! Quem conheceu o Dri viu que ele era um sujeito
cervejoso, mas que carregava no sangue goles de amigos que um dia lhe abanaram
as mãos vazias ou cheias de chapéus em saudação: “Como vai, Dri?”
Ouviu-se falar do Dri em todos os cantos daquela
Pirapetinga, dali de Estrela Dalva, de cá de Volta Grande, de toda zona da mata
mineira. Especialmente os amigos sócios do
“Bar do Dri” diziam que ele era um sujeito ressacoso, mas que se recuperava
rápido andando devagar até a padaria do Chico em busca de água tônica bem
gelada: “desenergisa o álcool” – dizia ele.
Um pouquinho nervoso - mão no bolso, apito na boca (o Bebeto faria o gol nana nenem)
O Dri não era poeta, mas também não um sujeito
inacabado: sempre foi a poesia. Sabe-se hoje: tratou-se de um sujeito tinhoso
amando sem parar o torrão natal desdenhoso. Só isso!
O Elói, que lhe veio do Rio de Janeiro só para
fraternizá-lo, dizia-me: “O Dri é um sujeito formidável”. Pura verdade, não
porque morreu no último dezesseis de cada mês de nossas vidas á fora. O era por
causa desses detalhezinhos. Por isso o amávamos.
O Bar do Dri parecia bagunça, mas era apenas bem querer. A "panelinha" é para o mocotó.
Ouvi o choro de nascimento do Hélio Adriane dos
Santos Cassani, o segundo da casa - éramos vizinhos de janela. Mas, por causa
desse seu retorno à casa do Pai sem despedida não chorei com ele, não o vi se entregar
de volta à terra que ele nunca abandonou.
Por isso, hoje, ainda não mais que um sujeito
choroso., sou ditoso e feliz por ter sido seu irmão.
Nota:
Escrevi este texto para o jornal Pirinforme em 2007, um ano após seu falecimento e agora lembro com ele os seis anos sem o Dri.
Escrevi este texto para o jornal Pirinforme em 2007, um ano após seu falecimento e agora lembro com ele os seis anos sem o Dri.
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