Translate

terça-feira, outubro 02, 2012

DISCURSO DO PRESIDENTE DO URUGUAI JOSÉ PEPE MUJICA NA CONFERÊNCIA DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL, RIO+20.

Autoridades de todas as latitudes e organizações, muito obrigado!
Meus agradecimentos ao povo do Brasil e sua senhora presidente.
Muito obrigado à boa fé que certamente manifestaram todos os oradores que me antecederam.
Expressamos a intima vontade como governantes de acompanhar todos os acordos que esta nossa pobre humanidade pode assinar. No entanto, deixem-me fazer algumas perguntas em voz alta: durante a tarde toda falamos sobre Desenvolvimento Sustentável, de como eliminar o imenso problema da pobreza.  Que se passa em nossas cabeças, o modelo de desenvolvimento e consumo que atualmente vivem as sociedades ricas?
Presidente  José Pepe Mujica do Uruguai
Faço esta pergunta: o que aconteceria ao planeta se os habitantes da Índia tivessem a mesma proporção de carros por família, que os alemães possuem? Quanto oxigênio teríamos para respirar? O mundo de hoje teria elementos materiais para que 7 ou 8 bilhões de pessoas possam desfrutar do mesmo nível de consumo e desperdício que tem as sociedades mais ricas do Ocidente? Isto é possível, ou será que temos que ter um dia um outro tipo de discussão?
Porque nós criamos esta civilização em que estamos: filha do mercado, filha da competição que se deparou com o progresso material enfático e explosivo.
Mas a economia de mercado criou sociedades de mercado. E nos deparamos com esta globalização que significa olhar para todo o planeta. Estamos governando a globalização ou é a globalização que nos governa?
É possível falar de solidariedade e que “estamos todos juntos”? Em uma economia baseada na concorrência impiedosa? Até onde chega a nossa fraternidade?
E não digo nada disso para negar a importância deste evento. Pelo contrario, o desafio que temos pela frente é de uma grandiosidade colossal. A grande crise não é ecológica., é política. O homem não governa hoje!
Não há forças envolvidas, se não as forças que governam o homem... e a vida. Porque não viemos ao planeta para desenvolvermos em termos gerais, mas viemos ao planeta para sermos felizes. Porque a vida é curta, e rapidamente se vai. E nenhum bem vale mais que a vida, isto é claro. 
Mas a vida vai se passando, e nós trabalhando e trabalhando para consumir sempre mais. A sociedade de consumo é motor, porque em ultima analise se o consumo está paralisado, a economia para. E se você parar a economia o fantasma a estagnação econômica aparece para cada um de nós.
Mas há o hiper consumo, este que está agredindo o planeta. E eles tem que acelerar este hiper consumo fazendo coisas que durem pouco, porque é preciso vender muito. E uma lâmpada elétrica, então, não pode durar mais que 1000 horas, mas existem lâmpadas que podem durar 100 mil, 200 mil horas. Contudo, estas não podem ser feitas porque o problema é o mercado. Porque temos que trabalhar e temos de sustentar uma civilização que “usa e joga fora”, e por isso estamos em circulo vicioso.
Estes são problemas de caráter político, que estão dizendo que está na hora de começar a lutar por outra cultura. Não se trata de retornar os dias do homem das cavernas, ou ter um “monumento ao atraso”, mas não podemos continuar indefinidamente sendo governados pelo mercado, e sim, temos de governar o mercado.
Então eu digo, na minha humilde forma de pensar que o problema que temos é político. Os antigos pensadores – Epicúreo, Séneca, inclusive os Aymaras, definiam: “pobre não é o que tem pouco, mas sim o que necessita infinitamente muito, e deseja e deseja mais e mais”. Isto é crucialmente de caráter cultural.
Então eu saúdo os esforços e acordos que são feitos. E eu vou segui-los, como governante. Sei que algumas coisas que eu estou dizendo “perturbam”. Mas devemos perceber que a crise da água e agressão ao meio ambiente não são a causa. A causa é o modelo de civilização que nós construímos. E nós temos que rever o nosso modo de vida.
Eu pertenço a um país pequeno e bem dotado de recursos naturais para viver. No meu pais tem 3 milhões, pouco mais, 3 milhões e 200 mil habitantes. Mas há cerca de 13 milhões de vacas, das melhores do mundo. E cerca de 8 a 10 milhões de excelentes ovelhas. O meu país é um exportador de alimentos, laticínios, carne. Uma planície onde quase 90% das terras são aproveitáveis.
Meus amigos trabalhadores lutaram arduamente para conseguir 8 horas de trabalho, para conquistar direito às máximas 8 horas de trabalho. E agora eles estão conseguindo as 6 horas. Mas aqueles que conseguiram 6 horas precisam agora ter dois empregos, portanto, trabalham mais do que antes.
Por quê? Porque eles tem uma infinidade de desejos: a motocicleta que comprou, o automóvel e pagar contas e contas. E quando você acordar perceberá que é um velho reumático como eu, e que passou toda a vida.
E um fará esta pergunta: este é o sentido da vida humana? Essas coisas que eu digo são elementares: o desenvolvimento no pode ir contra a felicidade. Tem que ir a favor da felicidade humana, do amor aos filhos, de ter amigos, ter somente o necessário. Precisamente porque este é o tesouro mais valioso que temos.
Quando lutamos pelo meio ambiente devemos lembrar que o primeiro elemento do meio ambiente se chama FELICIDADE HUMANA.
Muito obrigado.  
    
Obs: ouçam este discurso, com segurança em -
 
 


Nenhum comentário: