Estourasse agora mesmo a
rolha de uma garrafa e dela saísse um gênio, desses que realizam desejos, e a
mim fosse permitido um só pedido para se realizar, pediria: nenhuma criança no
mundo sofra duramente até que complete seus dezesseis anos.
Ontem, algumas horas ao
lado de crianças do Hospital de Pediatria, enquanto a elas se oferecia o grupo
do Poesia na Boca da Noite, não pude deixar de pensar nas crianças mortas numa
escola primária americana, na cidade de Newtown - Connecticut. Os números já se
aproximavam de trinta.
Minha noite de sono foi
curtíssima, já quase amanhecia o dia quando dormi um pouco. Até esse momento
voltou-me à lembrança imagens do terrível terremoto que vitimou tantas crianças
na Turquia em 1999. Imagens ao mesmo tempo renovadoras da fé na vida e na
perfeição que é a espécie humana, na medida em que crianças iam sendo
resgatadas sob escombros depois de cinco, seis dias sem água e comida e com
pouco oxigênio para respirar, no mais das vezes contaminado pelo perigoso
processo de decomposição dos cadáveres em volta.
Especialmente me assaltou
boa parte da noite a imagem do garotinho que encontrou o resgate depois de
cento e quarenta e oito horas debaixo da tragédia. Vendo novamente a luz,
acenou olimpicamente para a multidão que o aplaudia.
É lembrar essa passagem
trágica da humanidade e não me esquecer da simplicidade com que simplicidade o
Sr. Benedito Padeiro (Volta Grande/MG), explicava sua causa: “força da
destruição vem do nada”.
E vem de onde o desejo de
matar manifesto nessas ações fratricidas que frequentemente registram-se nos
Estados Unidos? Seria isso uma potencialização da cultura americana que o
cinema nacional faz questão de cultuar na execução de qualquer gênero hollywoodiano?
Não imagino com que grau
de realização o americano assiste seus filmes, sempre marcados por destruição,
matança, explosões, sangramento, exploração do limite físico humano. Isso pode
estar no “DNA” desses assassinos de ocasião. Pode ser quadro de valores para
eles.
Muitos de nós sem nunca
ter ido aos Estados Unidos fazemos juízo de valor ouvindo falar da beligerância
e também da grandeza do povo americano, sempre muito competente e capaz de
grandes vitórias e sacrifícios, umas que triunfam outras que, ao final,
purificam.
Olhando agora para o país
através dos olhos de mais essa enorme tragédia é possível enxergar, nesse
momento, um país e um povo parecidos com o oceano agitado que encanta e afronta
e com um lago quieto que de repente deslumbra e transborda: forças que vem do nada.
Mesmo nós, brasileiros,
permanentemente escandalizados como os nossos assassinatos urbanos sentimos
pena da família americana, nos comovemos com o presidente Obama chorando suas
crianças mortas, e sem palavras para explicar a mente criminosa. Tudo uma pena,
um desperdício de vidas preciosas.
Sei lá se tem razão o Sr.
Benedito ou o poeta Fernando Pessoa, um dizendo “a força da destruição vem do nada” e o outro,
celebre, poetando: “Quem quer passar além do Bojador tem que passar além da
dor...”.
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