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segunda-feira, junho 30, 2014

A COPA SOFT POWER

 A Copa do Mundo de futebol realizada em qualquer lugar do mundo é sempre uma festa, mas a que está em andamento no Brasil é mais do que isso... é soft power.
A disputa no gramado é das mais renhidas, difíceis, equilibradas, aplaudidas, curtidas nas arquibancadas dos estádios e fora deles. É aí que está a “identidade” brasileira que, no geral, vai tornando esta a copa das copas. Mesmo para nós, brasileiros, acostumados a ver o estrangeiro chegar e tomar conta do país estamos nos surpreendendo com o jeito simples e confiante com que as centenas de milhares deles estão transformando o Brasil em suas casas, e os brasileiros em seus íntimos.
As ruas e as praças estão lotadas com essas pessoas, ás vezes mais eles que nós dando vida e ditando regras de comportamento para a ocupação dos espaços onde acham que devem exercitar suas vontades.
Nesse andamento das coisas estamos vendo prevalecer entre todos a tolerância, o respeito, o limite, sorrisos, abraços e até beijos. Mas tem também a provocação, o desafio, a disputa entre os torcedores antes e depois das partidas sempre disputadas até a ultima gota de suor. Dentro dos estádios não há separação de torcidas, é como dizemos por aqui: tudo junto e misturado.
Os americanos e os argentinos vieram em maioria e, no entanto, se misturam alegremente com iranianos e ingleses num entrelaçamento que a diplomacia não consegue proporcionar, nem entre diplomatas.    
Também no geral os visitantes de outros países estão achando o Brasil um “paraiso”, porque onde chegam o tratamento que recebem é o mesmo: gentil.
A seleção americana, por exemplo, já percorreu mais de 15 mil quilômetros dentro do Brasil para jogar as suas partidas. Milhares de torcedores americanos viajaram com ela, e sempre se maravilhando com coisas e povo que viram em Brasila, Manaus, Fortaleza e Salvador. Pelo esforço que fizeram – a seleção e os torcedores americanos – mereciam um jogo no Maracanã, no Rio de Janeiro.
Do geral para o especifico, caso a caso, é claro que muitos desses visitantes passaram por dificuldades aqui no Brasil enquanto acontecem os jogos da copa. Problemas com aeroportos, hotéis, restaurantes, pequenos roubos e assaltos, metrô, ônibus e dai em diante até questões mal resolvidas com namoradas e namorados.
Mas também isso deve ter parecido a eles coisa normal de ocorrer quando se está diante de multidões em quase estado de delírio coletivo. Possivelmente receberemos boa avaliação dessas pessoas, mesmo que assim agravadas nesse momento aqui no país.
O grande aparato de segurança montado pelo governo para proteger os eventos da copa da Fifa, também está protegendo de perto as pessoas que estão fazendo a copa ao vivo.  
Já próximos do fim das competições estamos imaginando que chegaremos ao final sem maiores problemas, e com aperto no coração veremos retornar aos seus países os amigos que vieram nos visitar e se divertir conosco.
O Brasil não é mesmo um país desenvolvido, uma superpotência, um exemplo de justiça social para com os brasileiros. Os visitantes inteligentes e bem informados que aqui vieram sabiam disso antes de vir. Tinham noticias de que as ruas do país estão ocupadas por cidadãos brasileiros protestando justamente contra isso......... mas contra isso. Contra os gringos não.

30-junho-2014.

quarta-feira, junho 25, 2014

ÁREAS QUILOMBOLAS NO AMAPÁ



c-bernardo2012@bol.com.br
No dia 19 de maio de 1999 publiquei o artigo Quilombolas no jornal Diário do Amapá, em cujo ultimo paragrafo dizia eu:
"Na semana do 13 de maio de 99 os jornais brasileiros afirmam a existência de cinco quilombos no Brasil: Rio das Rãs e Mangal, na Bahia , Janary dos Pretos e Frechal, no Maranhão, e Kalungus, em Goiás. Quando dei com os olhos na manchete de chamada do jornal cheguei a imaginar al...guma alusão ao Curiaú na matéria... mas que nada, mais uma vez".

Nota do Mural: Hoje o Amapá conta com mais de setenta áreas quilombolas... um pouco demais para se levar a serio.

Relação de Comunidades Quilombolas do Amapá
1. Abacate da Pedreira - 2. Ajudante - 3. Alegre da Pedreira - 4. Alto do Pirativa - 5. Ambé - 6. Areal do Matapi - 7. Ariri - 8. ASTRAMAD - 9. Aterro do Muriacá - 10. Breu – 11. Capoeira - 12. Carmo do Macacoari - 13. Casa Grande - 14. Cavalo - 15. Cinco Chagas - 16. Conceição do Aporema - 17. Conceição do Macacoari - 18. Conceição do Maracá - 19. Coração - 20. Cunani - 21. Curiau - 22. Curiau de Fora - 23. Curiau Mirim - 24. Curralinho - 25. Engenho do Matapi - 26. Igarapé das Armas - 27. Igarapé do Lago - 28. Ilha Redonda - 29. Irmandade São José - 30. Itaubal - 31. Lago de Fora - 32. Lagoa dos Índios - 33. LIRA - 34. Maruanum (Bacaba do) - 35. Maruanum (Carmo do) – 37. Maruanum (Conceição do) - 38. Maruanum (Fátima do) - 39. Maruanum (São João do) - 40. Maruanum (São José do) - 41. Maruanum (São Pedro do) - 42. Maruanum (São Pedro do Canivete do) - 43. Maruanum (São Raimundo) - 44. Maruanum (Santa Luzia do)
45. Maruanum (Santa Maria do) - 46. Maruanum (Simião do) - 47. Mata Fome - 48. Mata Fome (São José) - 49. Mazagão Novo - 50. Mazagão Velho - 51. Mel da Pedreira - 52. Nossa Senhora do Desterro - 53. Oiapoque - 54. Palha (Ferreira Gomes) - 55. Pedra Branca do Amapari - 56. Porto do Abacate - 57. Porto do Céu - 58. Porto Grande - 59. Ressaca da Pedreira - 60. Retiro da Pedreira - 61. Rosa - 62. Santo Antônio da Pedreira - 63. Santo Antônio do Matapi - 64. São Francisco do Ariri - 65. São João do Matapi - 66. São José do Matapi - 67. São Pedro dos Bois - 68. São Raimundo do Pirativa - 69. São Tiago do Matapi - 70. São Tomé do Aporema - 71. Tessalônica - 72. Torrão do Matapi.

terça-feira, junho 17, 2014

XINGAMENTO A DILMA

Clovis Rossi - Folha de Sao Paulo 
Quando Ronaldo disse estar “envergonhado” com os desacertos da organização da Copa, Dilma Rousseff reagiu à moda de Nelson Rodrigues: “Tenho certeza que nosso país fará a Copa das Copas. Tenho certeza da nossa capacidade, tenho certeza do que fizemos. Tenho orgulho das nossas realizações. Não temos por que nos envergonhar. Não temos complexo de vira-latas.”
Nesta quinta-feira, Dilma submeteu seu orgulho a teste na tribuna de honra do Itaquerão. Dali, assistiu à partida inaugural da Copa do Mundo. Dessa vez, tentou blindar-se no silêncio. Absteve-se de discursar. Não funcionou. Como queria a presidente, a torcida exorcizou o vira-latismo. Mas, desamarrando suas inibições, incorporou um pitbull.
Ao entoar o hino nacional, ao ovacionar os jogadores, a arquibancada tomou-se de um patriotismo inatural. Contudo, rosnou com agressividade inaudita ao dirigir-se a Dilma. Fez isso uma, duas, três, quatro vezes. Diferentemente do envelope de uma carta ou do e-mail, a vaia não tem nome e endereço. Pode soar inespecífica. Como no instante em que o serviço de som anunciou os nomes de Dilma e de Joseph Blatter.
Até aí, poder-se-ia alegar que o destinatário da hostilidade era o cacique da Fifa, não Dilma. A coreografia estimulava a versão. Blatter levantou-se. Dilma manteve-se sentada. O diabo é que o torcedor, salivando de raiva, tratou de dar nome aos bois. Foi assim no coro entoado nas pegadas da cerimônia de abertura da Copa.
“Ei, Dilma, vai tomar no c…'', rosnava um pedaço da multidão. “Ei, Fifa, vai tomar no c…”, gania outra ala. Quando Dilma foi exibida no telão do estádio vibrando com o segundo gol do Brasil, arrostou, solitariamente, uma segunda onda de xingamentos. Após a comemoração do terceiro gol, ela ouviu um derradeiro urro: ‘Ei, Dilma, etc…”
O que fizeram com Dilma Rousseff no Itaquerão foi indesculpável. Vamos e venhamos: ela não era nem culpada de estar ali. Com as vaias da Copa das Confederações ainda não cicatrizadas, Dilma teria ficado no Palácio da Alvorada se pudesse. Foi ao alçapão do Corinthians porque o protocolo a escalou.
Vaiar autoridade em estádio é parte do espetáculo. Numa arena futebolística, dizia o mesmo Nelson Rodrigues, vaia-se até minuto de silêncio. Porém, ao evoluir do apupo para o palavrão, a classe média presente ao Itaquerão exorbitou. Mais do que uma pose momentânea, o presidente da República é uma faixa. Xingá-la significa ofender a instituição.
Quando o xingamento é transmitido em rede mundial, adquire uma pungência hedionda. No limite, o que a torcida fez na tarde desta quinta-feira foi informar ao planeta que o Brasil está deixando de ter uma noção qualquer de civilidade.
Quando o fenômeno atinge uma platéia como a do Itaquerão, com grana para pagar os ingressos escorchantes da Fifa, a deterioração roça as fronteiras do paroxismo. Evaporam-se os últimos vestígios de institucionalidade.
A sociedade tem os seus abismos, que convém não mexer nem açular. Dilma não se deu conta disso. E vive a cutucar os demônios que o brasileiro traz enterrados na alma. Fez isso pela penúltima vez no pronunciamento levado ao ar na noite da véspera. Muita gente achava que ela merecia uma reprimenda sonora. Mas a humilhação do xingamento transpassou a figura da presidente, atingindo a própria Presidência.
Quem deseja impor a Dilma um castigo que vá além da vaia, tem à disposição um instrumento bem mais eficaz do que a língua. Basta acionar, no silêncio solitário da cabine de votação, o dedo indicador. O gesto é simples. Mas a pata de um pitbull não é capaz de executá-lo.





terça-feira, junho 03, 2014

AQUI NÃO É MEU LUGAR.

Cesar Bernardo de Souza - c-bernardo2012@bol.com.br

Rui Barbosa, em 1892, sobre a instituição do Supremo Tribunal Federal, invocara o verbo contido nas Eumênides de Ésquilo, a quando da criação do novo Tribunal para os cidadãos da Ática:
“Eu instituo este Tribunal venerando, severo, incorruptível, guarda vigilante desta terra através do sono de todos, e o anuncio aos cidadãos, para que assim seja de hoje pelo futuro adiante”.
Analogamente surgiu o Supremo Tribunal Federal brasileiro? Ou não?
Ainda em 1824, época da Constituição imperial, surgiu no Brasil o Supremo Tribunal de Justiça composto de juizes letrados, tirados das relações por suas antiguidades e após, condecorados com títulos de Conselheiros.
Proclamada a independência, manteve-se constitucionalmente esse Tribunal que a seguir, na fase republicana veio a se transformar no Supremo Tribunal Federal, em 1890. Sua missão precípua determinava-o proteger a liberdade, os bens e a vida dos cidadãos tanto quanto a ordem e a segurança social mediante a obrigação sagrada de jamais desviar-se da lei.
Acontecia naquela época que o Imperador tinha poderes ilimitados, ocorrendo que por seus atos ficasse ao STJ manifestar-se sobre o que a Majestade não se determinasse resolver. Provém daí, creio, a nefasta prática da interferência de um poder sobre o outro.
Foi quê, e talvez porque, em 1890, por Decreto, transformou-se o Supremo Tribunal de Justiça em Supremo Tribunal Federal – o mesmo decreto estruturou o Ministério Público. Saía-se do período imperial onde a Justiça não tinha expressão política e, aportava-se na República que atribuía ao STF, por extensão lógica ao Poder Judiciário, muito maior importancia que a de dirimir questões de ordem privada. Determinava-lhe guardar e proteger os direitos individuais da sanha, força e infrações derivadas de atos dos poderes Legislativo e Executivo, principalmente quando tais agredissem ou desconhecessem textos constitucionais.
Além disso, considerando que o STF também era casa revisionista de atos do Judiciário, como ainda é, tornou-se ele próprio, o Supremo, guardião das próprias instituições da República. A Constituição de 1988 manteve o STF, ampliou, reforçou bastante as funções do Ministério Público, com isso dando ao Brasil um “sistema” judiciário quase sem igual em todo o mundo. Os direitos do cidadão e a paz social, mais que nunca, se tornaram a finalidade do Direito no Brasil.
Ocorre hoje, feliz ou infelizmente que abarrotamos o Supremo Tribunal Federal com todo tipo de recursos extraordinários, muitos deles menores do que o recomendado pela seriedade, estimando-se que até março de 2014 existam cerca de 685.034 processos em tribunais estaduais e federais aguardando decisão do Supremo – os ditos processos sobrestados.
Apesar do conhecimento desses números, há brasileiros que ocupam seções do STF querendo saber se seus cachorrinhos de estimação podem ou não receber suas heranças, seus sobrenomes ou se podem ser enterrados com pompas e circunstâncias em cemitérios humanos.
Por mais estranho que possa parecer, a cada eleição forma-se fila para perguntar à mais alta Corte de Justiça do Brasil se os ministros juizes da mais alta Corte de Justiça Eleitoral do Brasil sabem julgar crimes eleitorais – parte do TSE é formada por ministros do STF.
Por incrível que possa parecer, cento e setenta e seis anos depois do surgimento do Supremo Tribunal de Justiça do Império, o Presidente da República, diferente do que fazia o Imperador daqueles tempos, nomeia amigos para ministros do STF, dispensando-os do quesito: notório saber.
O Dr. Joaquim Barbosa, Ministro Presidente do Supremo, desconfiou do, digamos “reforço” da bancada, jogou a toalha antecipando o pedido de sua aposentadoria.  Recusou-se a continuar na posição de “carneirinho preto olhando de cima o rebanho de carneirinhos brancos”. Perde, e muito, a democracia... logo veremos.