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sábado, abril 25, 2015

VIVA O POVO NEPALÊS


c-bernardo2012@bol.com.br
Sei que existem palavras para expressar solidariedade sincera aos irmãos nepaleses, mas não me ocorre o que deva ser dito nesse momento. Foi provação demais essa enorme destruição causada pelo terremoto que botou no chão boa parte das cidades do Vale de Katmandu, inclusive na capital Katmandu, deixando num primeiro momento milhares de mortos e um sem número de feridos.
Estamos sim sem palavras que traduzam toda extensão da solidariedade brasileira ao povo e governo, nepaleses – são apavorantes as imagens que chegam. Talvez seja bom que o Brasil diga prontamente o quanto lhe importa o bem estar desse povo, propugne e faça chegar no Nepal a sua mão generosa.
Benedito Ribeiro, conhecido como “padeiro”, mas bombeiro hidráulico lá de Volta Grande, minha terra natal, sempre disse do alto de sua convicção: “as grandes forças de destruição vêm do nada”. Não importa teorias, agora, aos nepaleses, mas sim que Deus e os homens ajudem no que for possível – tudo lá é necessário. De minha parte desejo que não se repita no Nepal o Haiti, alvo de imensa comoção mundial por apenas alguns dias.   
Hoje a ONU está marcando seus 70 anos de criação; tem que ser dia de Organização das Nações Unidas para todas as vítimas desse poderoso terremoto, cuja magnitude atingiu 7,9 na escala Richter, que dificilmente vai a dez. Um único terremoto, no Chile chegou a 9,5, em 1960.
É certo que vamos encontrar motivos para aplaudir o Nepal em meio a tudo isso. Logo nos chegarão imagens fantasticamente renovadoras da fé na vida e na perfeição que é a espécie humana, na medida que pessoas, especialmente crianças, sejam resgatadas sob escombros depois da esperança. Muitas haverão de “ressurgir” cinco, seis dias adiante resistindo sem água e comida e pouco oxigênio para respirar... nós, brasileiros, esperamos essa confirmação. 
A televisão já nos mostra imagens de pessoas vasculhando ruínas em busca de pessoas ou pelo menos de alguma fotografia que lhes fique como lembrança material da esposa e filhos mortos e sepultos sob as montanhas de escombros.
Há poesias que cantam povos tornados fortes pela razão invencível que o sofrimento trás, porém, criando solidariedade e quase sempre transformando países em altar por causa da dor, e em templo por causa da fé no futuro.
Eu, particularmente eu, nunca soube nada sobre o Nepal, nem dos seus guerreiros e nem dos seus poetas, cientistas, desportistas, artistas de qualquer arte. Mas, sempre ouvi falar da sua grandeza capaz das grandes vitórias e sacrifícios, umas que triunfam outras que, ao final, purificam.
Olhando o Nepal pelos olhos desse terremoto, e se com a suavidade da poesia, é possível descobrir um país e um povo parecidos com a montanha que encanta e afronta, mas também com um lago quieto que de repente deslumbra e transborda.
E vendo, com tanta intensidade, tantas pessoas postas nas ruas a espera de que cessem os tremores da terra, compreenderemos pais, filhos, parentes, amigos, nepalês de alguma forma, que por alguns dias não conseguirão pensar em nada concretamente, não terão palavras, ficaram vazios de sonhos, aparecerão na televisão para o resto mundo com o semblante opaco, sem aura legível – imagens da compaixão, do desperdício de vidas preciosas.
 
Pode ser que tiremos o Nepal dos planos de um dia visita-lo na oportunidade da grande viagem ao redor do mundo que faremos quando a fortuna nos chegar. Pode ser que a desinformação construa um muro entre nós, brasileiros e nepaleses, só porque não é da nossa cultura chorar de dor, ranger os dentes por causa de vulcões, terremotos, maremotos, grandes tornados, nevascas e outras manifestações enérgicas da natureza.
Pode ser que não chegue a um sequer daqueles irmãos nepaleses um par de sapatos, um mísero quilo de arroz, frutos da solidariedade do povo brasileiro apenas porque o Nepal está plantado onde nos parece terminar a terra, e o Brasil onde se acredita começar o céu. Tudo isso pode ser, é possível, e, pode até não importar nada que o seja: outros povos os ajudarão.
Mas, nepaleses do Nepal e do mundo, principalmente aos que possam estar entre nós aqui no Brasil, saibam que os brasileiros conhecem bem o peso das tragédias humanas sociais e econômicas que se abatem sobre o povo, depois do furor da natureza ou das mãos pesadas dos governos ruins. Tudo que temos agora para com vocês é solidariedade, fé no futuro, braços para o abraço, tudo em fim que pareça de nós e chegue até vós como um sentimento puro que voa, rompa o espaço e nos una no esforço de devolver-lhes o canto, a paz, conforto espiritual. Depois do que passa os nepaleses, cantar é recapturar a alma de sob a vastidão de escombros. 
Possivelmente é desejo de todo o povo brasileiro que, agora, cada pessoa nepalesa exteriorize a força da qual falou o poeta universal Fernando Pessoa: “...Quem quer passar além do Bojador tem que passar além da dor...”.
Força irmãos do Nepal, fé no futuro.

 

 

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