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sexta-feira, junho 26, 2015

CARTA DE MACAPÁ - 2015


I FÓRUM DE DISCUSSÃO SOBRE A REDE

ESTADUAL DE COMBATE AO CÂNCER

CARTA DE MACAPÁ

 
Nós, participantes do I Fórum de Discussão Sobre a Rede Estadual de Combate ao Câncer, realizado em Macapá – Amapá, nos dias 19 e 20 de maio de 2015, sob a iniciativa do Instituto do Câncer Joel Magalhães (IJOMA), que contou com a participação conjunta do Ministério da Saúde; dos Conselhos Estadual e Municipal de Saúde; do Governo do Estado do Amapá; da Secretaria de Estado da Saúde; da Secretaria de Estado de Mobilização e Inclusão Social; das Prefeituras Municipais, concordamos em:

1.    Reafirmar a importância em implantar a Rede de Atenção à Saúde das Pessoas com Doenças Crônicas – Eixo Oncologia, como objeto de promoção de saúde pública de interesse prioritário, no âmbito do Estado do Amapá;

2.      Reconhecer a Rede como um conjunto de ações e serviços de saúde, baseado em critérios epidemiológicos e de regionalização, a fim de solucionar os desafios atuais nos quais os quadros relativos aos cânceres são de alta relevância epidemiológica e social;

Reforçar o entendimento de que a implantação da Rede poderá ser facilitada pela compreensão de todos os setores integrantes do processo de saúde pública, e que isso é de interesse de todos os órgãos da administração direta e indireta ligados à saúde, além da sociedade civil organizada, não comportando divisões, segmentos ou outras formas de separação para sua plena implantação;

Considerar que os setores envolvidos na implantação da Rede sejam responsáveis pelas ações de acordo com o nível de gestão tendo como objetivo primordial reduzir a incidência e mortalidade por câncer e as incapacidades causadas por esta doença, bem como, contribuir para a melhoria da qualidade de vida dos usuários com câncer por meio de ações de promoção, prevenção, detecção precoce, tratamento oportuno e cuidados paliativos. 

Para tanto, propomos ações prioritárias abaixo elencadas visando um plano de trabalho individualizado por setores, pelo qual dispomo-nos a cooperar para a implantação e efetivação da Rede, pautado pelos seguintes princípios:

 1.      Adoção de um modelo de atenção à saúde que:

 ·         Seja centrado no usuário;

·         Considere as necessidades de saúde da população;

·         Tenha a Atenção Básica de Saúde como coordenadora do cuidado;

·         Possibilite a integralidade e a continuidade do cuidado;

·         Garanta o acesso e a qualidade dos serviços;

·         Respeite as condições adequadas de trabalho;

·         Tenha como objetivo o alcance de resultados;

·         Mantenha o planejamento e a organização dos setores.

 2.      Efetivação das atribuições da Rede, quais sejam:

 ·         Predefinição da população e do território com amplo conhecimento de suas necessidades e preferências que venham a determinar a oferta de serviços de saúde;

·         Organização dos fluxos e implementação quando necessários de estabelecimentos de saúde que prestem serviços de promoção, prevenção, diagnóstico, tratamento, gestão de casos, reabilitação e cuidados paliativos, além da integração dos programas focalizados na promoção da saúde, riscos e populações específicas, serviços de saúde individuais e coletivos;

·         Fortalecimento de Atenção Básica de Saúde estruturada como primeiro nível de atenção e porta de entrada do sistema, constituída de equipe multidisciplinar que cubra toda a população integrando, coordenando o cuidado e atendendo às suas necessidades de saúde;

·         Prestação de serviços especializados em lugar adequado;

·         Atenção à saúde centrada no indivíduo, na família e na comunidade, respeitando as particularidades culturais e de gênero, assim como a diversidade da população;

·         Criação de um comitê técnico com membros das esferas Municipal, Estadual, Federal e entidades afins, com responsabilidades de mecanismos;

·         Participação social ampla;

·         Gestão integrada dos sistemas de apoio administrativo, clínico e logístico;

·         Recursos humanos qualificados e suficientes, comprometidos e com incentivos pelo alcance de metas da Rede;

·         Conclusão e implantação da Central de Regulação, cuja atribuição será a de analisar a demanda e a oferta de tratamento, para posterior distribuição a partir da análise do problema;

·         Sistema de informação integrado que vincule todos os membros da rede, com identificação de dados por sexo, idade, lugar de residência, origem étnica e outras variáveis pertinentes;

·         Financiamento tripartite (União, Estado e Municípios), garantido e suficiente, alinhado com as metas da Rede, elaboradas a partir de ações conjuntas do Ministério da Saúde, da Secretaria de Estado da Saúde e das Secretarias Municipais de Saúde;

·         Estruturação de centros de atendimento ambulatorial para diagnóstico e tratamento das lesões iniciais;

·         Disponibilização de carretas ambulantes para atendimento preventido, equipadas para a realização de exames clínicos, bem como o deslocamento destas aos municípios do interior do Estado;

·         Criação de serviços de radioterapia no âmbito da UNACON;

·         Ampliação e estruturação dos serviços de quimioterapia no âmbito da UNACON;

·         Gestão baseada em resultado;

·         Educação continuada permanente;

·         Fortalecimento da prevenção e promoção da saúde na Rede de Atenção;

·         Garantir a efetivação e a aplicação da lei dos 60 dias para tratamento do câncer (Lei nº 12732/2012), que assegura aos pacientes o início do tratamento em no máximo 60 dias após o diagnóstico.

 

Macapá/AP, 20 de Maio de 2015.

 

domingo, junho 07, 2015

CANSADOS DE VIVER.

c-bernardo2012@bol.com.br
Quando durmo três horas consecutivas sinto enorme renovação – sou outro quando acordo. Não dormir a noite nesses últimos quatro anos produziu grandes transformações em minha vida: me especializei em programação noturna dos quinze canais de televisão aberta em Macapá, em bisbilhotice no computador nas madrugadas e, ler bastante sobre a busca da humanidade em crescer cada vez mais a longevidade do homem.
 José Sarney, um amigo, volta e meia nos diz: “tenho inveja de quem dorme”. Para ele são décadas garimpando as madrugadas, para mim uns poucos anos, mas já me arvorando a também dizer o mesmo. Porém, o não dormir tem lá suas vantagens: sei que computador demais enjoa; sei que o homem está tristemente enganado nessa corrida para estender a vida indefinidamente, ou até duzentos e cinquenta anos.
Cientificamente tudo isso já é possível, sei lá quanto custa. A Engenharia Genética é o processo, a injeção de células tronco é o método, a transformação delas em ossos, músculos, cartilagens, nervos e sangue é o “milagre” trans. Alimentação, higiene, vacinas, pesquisas medicas, e cada vez mais tecnologia, são fatores,
A possibilidade dessa “imortalidade” está na exclusão – é coisa para meia dúzia de cérebros geniais e de bolsos endinheirados. Ainda bem! O outro lado da moeda – quase oposto – o do rebatimento disso para a humanidade tem complicadores insuportáveis, uns estratégicos outros específicos.
Romper o limite de suporte do planeta terra, que não iria além da carga de dez bilhões de pessoas – não haveria água para tanto, nem potável nem outra para produção – a terra não iria além de 2 bilhões de toneladas de grãos, e para isso a humanidade teria que ser vegetariana por falta de alimentos para o gado. Fosforo e nitrogênio faltariam, sobraria gás carbônico.
Contudo, não é bom duvidar da capacidade inventiva e estratégica do homem. Especificidades da vida humana, no entanto, encerram, ao meu ver, a questão insuperável na amplitude dessa busca.
Dias atrás, numa missa de corpo presente de uma amiga morta pelo câncer, vi e ouvi coisas que me trouxeram o desafio de escrever esse artigo. Parentes, especialmente a filha, depuseram indiretamente pela inviabilidade de se esticar a vida para muito além do suportável. Disse, num trecho, a filha para a mãe em velório: “O sofrimento maior dela nunca foi as dores e os incômodos físicos do câncer. Mamãe não podia mais esconder essas coisas para poupar os filhos, os netos, a família, de sofrer mais do que ela”.
Compreendi bem o que ela estava falando, a extensão da sua fala. E imaginei: quantas vezes morreria a alma de alguém que tendo imortalizado o corpo teria que conviver com o sofrimento físico e a morte dolorosa dos seus amados? E, de outra forma, qual o limite de tempo para conviver suportavelmente com as histórias desse mundo? Também, com duzentos e cinquenta anos que lembranças socorreriam noites insones?