Translate

domingo, junho 07, 2015

CANSADOS DE VIVER.

c-bernardo2012@bol.com.br
Quando durmo três horas consecutivas sinto enorme renovação – sou outro quando acordo. Não dormir a noite nesses últimos quatro anos produziu grandes transformações em minha vida: me especializei em programação noturna dos quinze canais de televisão aberta em Macapá, em bisbilhotice no computador nas madrugadas e, ler bastante sobre a busca da humanidade em crescer cada vez mais a longevidade do homem.
 José Sarney, um amigo, volta e meia nos diz: “tenho inveja de quem dorme”. Para ele são décadas garimpando as madrugadas, para mim uns poucos anos, mas já me arvorando a também dizer o mesmo. Porém, o não dormir tem lá suas vantagens: sei que computador demais enjoa; sei que o homem está tristemente enganado nessa corrida para estender a vida indefinidamente, ou até duzentos e cinquenta anos.
Cientificamente tudo isso já é possível, sei lá quanto custa. A Engenharia Genética é o processo, a injeção de células tronco é o método, a transformação delas em ossos, músculos, cartilagens, nervos e sangue é o “milagre” trans. Alimentação, higiene, vacinas, pesquisas medicas, e cada vez mais tecnologia, são fatores,
A possibilidade dessa “imortalidade” está na exclusão – é coisa para meia dúzia de cérebros geniais e de bolsos endinheirados. Ainda bem! O outro lado da moeda – quase oposto – o do rebatimento disso para a humanidade tem complicadores insuportáveis, uns estratégicos outros específicos.
Romper o limite de suporte do planeta terra, que não iria além da carga de dez bilhões de pessoas – não haveria água para tanto, nem potável nem outra para produção – a terra não iria além de 2 bilhões de toneladas de grãos, e para isso a humanidade teria que ser vegetariana por falta de alimentos para o gado. Fosforo e nitrogênio faltariam, sobraria gás carbônico.
Contudo, não é bom duvidar da capacidade inventiva e estratégica do homem. Especificidades da vida humana, no entanto, encerram, ao meu ver, a questão insuperável na amplitude dessa busca.
Dias atrás, numa missa de corpo presente de uma amiga morta pelo câncer, vi e ouvi coisas que me trouxeram o desafio de escrever esse artigo. Parentes, especialmente a filha, depuseram indiretamente pela inviabilidade de se esticar a vida para muito além do suportável. Disse, num trecho, a filha para a mãe em velório: “O sofrimento maior dela nunca foi as dores e os incômodos físicos do câncer. Mamãe não podia mais esconder essas coisas para poupar os filhos, os netos, a família, de sofrer mais do que ela”.
Compreendi bem o que ela estava falando, a extensão da sua fala. E imaginei: quantas vezes morreria a alma de alguém que tendo imortalizado o corpo teria que conviver com o sofrimento físico e a morte dolorosa dos seus amados? E, de outra forma, qual o limite de tempo para conviver suportavelmente com as histórias desse mundo? Também, com duzentos e cinquenta anos que lembranças socorreriam noites insones?

 

Nenhum comentário: