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Pimenta não é refresco nem no
olho dos outros, tive uma vizinha da pá virada e nunca passou pela minha cabeça
arder-lhe os olhos. Isso há muitos e muitos anos, cerca de meio século atrás.
Dona Dilma, lá da Euclides da
Cunha, teve sinas na vida, a de morar nas imediações do Bar Rodapé e a de ter
um marido como o Tatão, que não chegou a ser um beberrão apesar de todos os
dias parar no Roda antes de seguir para casa.
A primeira sina, a de
vizinhança com o bar, era destino; a segunda, mulher de Tatão, era
fado. Quanto a me ter como vizinho não sei que sina era.
Lá para trás, perdido nesses
anos tantos, vizinho de Dilma e Tatão – ela braba como um fila, estive eu ainda
imaginando que a mulher alheia sempre era mais braba que a da gente. Erro fatal,
não demorou e a excelência das broncas da Dilma no Tatão atravessaram o muro,
minha mulher usava palavras dela para reprovar meus pequenos erros.
Tatão era um absurdo, todos os
dias parava no Rodapé, tinha compromissos com a mulherada. Pinguço pinguço não era,
pé de valsa sim. Bastavam duas ou três lambadas de run ou gin e lá se perdia
nos braços das “bailarinas”. Todo dia era isso, já acostumado com o que ouviria
em casa nem se importava com marcas de batom, perfume, marcas de dentes no pescoço.
Sujeito civilizado que era só se recolhia depois de todo o falatório de Dilma.
Comigo não era nada disso, naquele
tempo apenas às sextas-feiras saia para a esbornia, aliás, todas as
sextas-feiras. Normalmente escolhia começar o fim de semana longe de casa, Deus
me livre de mulher buscar marido no bar. Dona Dilma era escolada nisso.
Dava-se comigo que sexta,
sábado e metade do domingo era apenas sexta-feira. O resto do domingo corria à
conta do falatório da esposa – invejosa dos discursos da vizinha.
Em compensação de segunda à
tarde noite de sexta feira me divertia vendo e ouvindo o pobre Tatão recebendo
no rosto a esculhambação de Dilma. Mas, já disse, eu ruminava!
“Mulher é a obra mais bela de
Deus, mas faltou pendurar nelas um saco. Precisavam saber quanto custa passar
pela vida carregando entre as pernas esse saco pelanca com essas duas bolinhas
dentro” – sem trocadilho, é um saco.
Se a mulher também tivesse saco
não haveria separação de casal, só união. Não encheria o saco do marido quando
voltasse amanhecido para casa (é o sol que às vezes sai cedo), não repararia em
batom (sem querer), arranhões (na quina da mesa), perfume (só de pegar na mão),
marcas no pescoço (só por apartar briga). Ao perceber o cheiro de bebida
identificaria de imediato se pinga, cerveja ou vinho e na proporção do preço
pediria dinheiro para a feira... que nunca faria. Mas, encher o saco alheio,
não!
Minha mulher parecia ansiosa
para se tornar a própria Dona Dilma – gerentona, peito de aço. Decidi antes me
mudar dali da Euclides da Cunha, deixar para trás o Rodapé – quase não tinha
amigos lá, botar à necessária distancia a D. Dilma muito braba, quase uma
lutadora de MMA, por pouco uma “presidenta”. Vingança é coisa doce, antes de me
mudar dali resolvi dar uma dura nela: -A senhora se tivesse saco não encheria
tanto o saco do Tatão, nem contaminaria os ouvidos das vizinhas.
Ela ouviu tudo isso quietinha
da silva - quem tem peito como eu não precisa de saco.
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