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domingo, janeiro 10, 2016

QUAIS AS NOVIDADES?

c-bernardo2012@bol.com.br
A barbearia Itamarati é das tais em Macapá, lá se fica sabendo sobre tudo o que ocorre na cidade. Quando o Fininho passa por lá até do que ainda vai acontecer se tem notícia.
Sujeitinho engomado, ultimamente parecia desmazelado com a roupa como sempre muito limpa e bem passada, mas bainha da calça de uma das pernas descosturada sobrando sobre o sapato, camisa abotoada uma casa acima fazendo ponta sobre a braguilha, o lenço enfiado no bolso da calça embolado eram indícios de que o Fininho era outro.
Mesmo assim prestavam atenção no que dizia, nele nem tanto. Depois que andou defendendo que o elefante descendia da anta a turma começou a achar que ali estava um finório piadista, muito diferente do até então conceituado leva e traz de notícias da cidade...um cronista.
O descrédito começou com a mania sabe-se se lá de onde veio de cumprimentar perguntando:
-Quais as novidades?
A mania esvaziou a imagem do Fininho mensageiro das notícias raras que a cidade gerava de vez em quando. Por causa disso muitas vezes foi visto dentro do papo animado típico da barbearia, mas de pé. Antes, na chegada, Alcino, dono do estabelecimento, lhe arranjava assento apenas com o olhar – o freguês menos gastador ou recém chegado era quem perdia a cadeira para o Fininho.
Quais as novidades? Ora, competia a ele traze-las, contá-las com a graça e jeito que só ele tinha para explicar a notícia. Mais notoriedade conseguia quando defendia a sua novidade de qualquer ataque de descrença.
Desses detalhezinhos surgia o encantador bate-boca que fazia da barbearia Itamarati quase um ponto turístico da cidade de Macapá.  
Desconfiado dessa queda de prestigio, aí sim, novidade que já atravessara ruas e bairros, Fininho entendeu que era tempo de reconquistar o terreno. Conversar em pé no salão da barbearia – algumas vezes tinha até vendedor de cd pirata sentado – e tanto tempo sem que Alcino lhe reafirmasse em presença da freguesia cabelo e barba por conta da casa, foi um golpe certeiro na sua autoestima de meio malandro meio jornalista popular.
Certo dia, antevéspera de feriado prolongado, meteu uma verba na algibeira e rumou para a barbearia. Sem gestos bruscos, mas absolutamente determinado abriu mais do que de costume as duas folhas de vidro da porta única do estabelecimento, deu bons dias para uns a canto de boca a outros com palavras bem pronunciadas, enquanto se dirigia à última das quatro cadeiras pretas dos barbeiros. A Alcino nem deu tanta confiança assim, como se tivesse contas a acertar com o Chicão, o mais cético dos barbeiros quanto às suas novidades levadas a ali:
-Por favor, barba e cabelo., máquina 4.
Devidamente “imobilizado” pela túnica de oficio, branca e sinceramente bem limpa, quase alvejada, ele nem cruzou as pernas longas e magras como de costume. Quando os espelhos lhe mostraram ouvintes suficientes, soltou a “bomba”:
-Os deputados afastaram o Presidente Moisés, nesse momento estão escolhendo um novo presidente para a Assembleia Legislativa.
A primeira reação veio de Chicão (soube-se, aí sim, porque o tinha escolhido para barba e cabelo à máquina 4):
-Cê é doido é? Moisés tem aquela turma no bolso, rapaz!
Enquanto falava Chicão movimentava com a mão direita a navalha muito perto do nariz do Fininho, com a esquerda mantinha a cabeça dele de frente para o seu espelho não deixando, com isso, que frontalmente saboreasse a novidade que entregava aos amigos.
-E vou dizer mais - disse Fininho já dono do movimento de cabeça que quisesse ou precisasse fazer para se valorizar: não foi hoje porque não dava mais tempo, mas amanhã os desembargadores vão extinguir o mandato dele.
Alcino, cá prá nós, sempre atual com as notícias e muito zeloso dos seus interesses fingiu-se despretensioso e perguntou ao cliente que naquele momento recebia de suas mãos a massagem preceptora do barbeado:
-Você acredita nisso, Excelência?
Ao que respondeu alto e bom som o Dr. Edinho, suplente do Deputado Moisés:
-Deus o ouça! Capricha no corte e na barba, quem sabe?!  

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