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terça-feira, janeiro 12, 2016

RIO DE JANEIRO: APOSENTADORIA DOS ANIMAIS DE TRAÇÃO.

c-bernardo2012@bol.com.br
A notícia de hoje, 11/01, é a mais interessante do Brasil por pelo menos mais de dois motivos e se refere a cavalos, burros e jumentos – dias atrás disse que de pensar morreu o cavalo, agora poderia dizer que enfim prevaleceu o pensamento do burro.
A notícia interessante é que nesta data a Lei Nº 2727/2014 foi sancionada pelo governador do Estado do Rio de Janeiro, depois de regulamentada. Proíbe no âmbito do Estado do Rio de Janeiro, a utilização de burros, cavalos e jumentos em quaisquer situações de transporte de cargas, materiais ou pessoas. Excetua os animais utilizados como instrumentos de carga e transporte em áreas rurais.
A Lei chama de fretamento, que também proibiu, o ato de carregar, transportar, alugar, nestes casos, charretes, carroças e demais tracionados por animais, assim como o transporte de pessoas e materiais como entulhos, lixos, mobiliário, ferragens, quando utilizados para tanto o trabalho de cavalos, burros, jumentos e demais animais considerados de carga. Em fim chegou o “13 de maio” para esses animais.
Como em todas as vezes que me alegro, fui ruminar com a parelha de cavalo e burro que há anos ouço e tanto tempo admiro. Já os encontrei ponderando sobre a “Abolição da Escravatura” para os colegas cariocas e fluminenses:

-Nós burros temos direito a um bom porre hoje, mas são vocês cavalos quem devem pagar a conta.
-É provocação de libertos?
-Absolutamente, é história. Nos idos de 1857 o Bond chegou ao Rio de Janeiro, Sta. Teresa, nós já estávamos lá – burros e cavalos – mas quem fomos nós os escolhidos para puxa-lo. Morro acima morro abaixo, debaixo de pancada. E vocês, cavalo, carregando nas costas um cavaleiro, às vezes dois.
-É, mas no velho oeste americano éramos nós no tiroteio; nunca vi burro lá!
-Voltando ao Rio de Janeiro, com os bondes e os burros, quinze anos depois chegaram os bondes elétricos e com eles a ilusão de que também chegara a aposentadoria. Que nada, fomos para as carroças. Duas ou três vezes mais pancadas, pior e menos comida, com a decrepitude ganhamos as ruas onde morrer abandonados. E vocês, cavalo, estavam nos autódromos, exibidos, galopando e comendo torrão de açúcar.
-É, mas no Nordeste tínhamos que galopar entre espinheiros na vastidão das caatingas.
-Voltando ao estado do Rio de Janeiro, com a cana-de-açúcar e os burros, criaram as carroças duplas, tipo trem de dois vagões. Aumentaram muito a distancia desde o fim dos canaviais até os pátios das usinas, puseram nas mãos dos carroceiros aqueles terríveis chicotes longos, de estalo.
-É, mas no estado do Rio de Janeiro, em Petrópolis e Paquetá entraram em uso as charretes e as carruagens puxadas a cavalo. Triste ver as filas imensas de pessoas esperando embarque, do nascer ao pôr do sol, todos os dias, pior nos fins de semana. 
-Pois é, e mesmo assim, sem a solidariedade de vocês, cavalo, nós, burros, também tivemos que puxar essas charretes e carruagens.
Mas, o mundo não para. Cento e dezesseis anos depois temos a nossa lei abolicionista sancionada no Rio de Janeiro e depois de tanto ainda veio excetuando os animais utilizados como instrumentos de carga e transporte em áreas rurais.    
-É, mas essa lei está mais para burro. Nós, cavalo, temos o destino da bala, da pancadaria, da truculência, não fomos isentos do trabalho nas cavalarias militares no Brasil., o que não se faz cavalgando burros.
-Pois é cavalo, unamo-nos. Do Chuí ao Oiapoque outros vinte e seis governadores precisam nos dar o nosso treze de maio...ó Lucius!
É querer demais, dessem-nos o fim da espora, do chicote e ferraduras de borracha já seria bom. Depois sim, a lei, mas sem exceção.

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