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quarta-feira, janeiro 13, 2016

TELEFONE E SOLIDÃO

c-bernardo2012@bol.com.br


Lurdes estava só e solitária na sala de quimioterapia quando a encontrei hoje. Já, algumas vezes, havia encontrado aquela sala vazia, mas nunca ocupada e funcional com apenas uma paciente. Ela trata um câncer de mama desde de 2010.
A solidão é própria de cada um de nós, a exceção é saber estar sozinho em meio às multidões que nos cercam - quando solitários estamos no nosso inferno. E quanto a isso, o poderoso telefone celular de hoje, que também já vai sendo próprio de cada um de nós, só participa para agrava-la.
Ocupei a cadeira quimioterápica ao lado dela e nos pusemos a conversar sobre os nossos passos do diagnóstico até aqui. Ela não sofre ou não reclama de sofrimento, recompôs a mama afetada, a esquerda, e se sente bem, se acha e está bonita.
A certa altura, ela quase despachada da jornada de hoje e eu a iniciar, disse-me:
-Foi bom ter chegado para me fazer companhia, já estava para chorar!   
-Mas, chorar por que?
-Ainda a pouco chegou uma mensagem me avisando que meu primo, 34 anos, no Ceará, faleceu. O câncer para ele foi fulminante. Tão novo! Estava tão bonito! Não durou um ano.
Depois, ao receber um telefonema local, respondia dando a entender que não teria mais a carona para retornar à casa, mas daria um jeito, arranjaria os 50 centavos que faltavam para inteirar a passagem do ônibus.   






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