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terça-feira, agosto 09, 2016

VACAS E BOIS.....


Quem não conhece Volta Grande pouco me acredita quando falo de lá, e quem a conhece bem em nada acredita no que digo. A opinião pública me interessa, é respeitável sob todos os aspectos, mas nesse momento dou mais importância à minha opinião.
Especialmente a de antanho, que foi se consolidando nos botequins, e cá pra nós: há melhor fórum para formação de opinião? Quando você for a Volta Grande ou quando os de lá passar a vê-la com os meus olhos, o que verão será a essência da minha opinião: o inusitado mora lá!
Conhece, acaso, alguma cidade de cuja praça central se possa ver bois pastando no topo dos morros, até com risco de que algum lhe caia à cabeça? No tempo das vacas gordas - Volta Grande já foi cidade de vacas prestigiadas - se podia vê-las pastando placidamente nas várzeas, como damas que não tinham que se esforçar tanto para conseguir o capim de cada dia.
Era um tempo de florestas ainda fincadas no topo dos morros, de bois e vacas tolas, incapazes de perceberem que o topete florestado daqueles morros logo se transformaria em carvão para assá-los em churrascadas monumentais. Aliás - se eu não disser dirão por mim - no Bar do Dri eu mesmo comi dessas vacas e bois, alguns poucos, mas comi sim.
Pois é ao boi que quero chegar, vez que no Brasil de hoje são mais de um para cada habitante, uns 230 milhões de indivíduos bovinos. Cria-los e vende-los - como direi? – tem sido a salvação da lavoura.
Predomina o boi branco em Volta Grande, mas vi lá nos pastos da Piedade uma boiada absolutamente preta, de pelagem e couro pretos. Livrem-me de xenofobia se a esses também couber a designação elegante de euro ou afro ou indianos descendentes. Brancos e pretos que vi por lá são zebuínos, bos indicus na origem, com certeza.
Não vi racismo no e contra o rebanho, todos, brancos e pretos, muito bem tratados. Papai anda dizendo que já não são sacrificados no pasto como antes, após queda de morro, pernas quebradas. Defende a sua tese com base na ausência de urubus, que graças aos veterinários não acham mais uma vitela sequer para comer.
No banco da Praça Benedito Valadares, em dias de ócio neste ultimo julho, troquei olhares com a boiada branca do Chalé – eu imaginando e os tais ruminando. Pensava eu: coitado desses bois saradões, sem vacas, sem filhos, sem mugidos, sem tugidos., como chegam hoje ao abate?
Antigamente (falei a alguns intelectuais da terra que é preciso resgatar a história da Charqueada do Seu Gaspar) eram abatidos a pancadas na testa ou choupadas na nuca, morre não morre eram sangrados a faca para “não machucar a carne”. Minha mania de não dormir parece que vem daí, gostava de ver o “trabalho” do Vadinho e do Sebastião Pescoço enquanto esperava a encomenda do papai – até hoje não gosto do olhar de vitelos de encontro ao meu.
Volta Grande não era assim, mas está assim: mais bois, pouquíssimas vacas, raríssimas bezerras, pouco leite e bem mais rosbife, quase nenhum carro de boi e muitos caminhões com bois; cidade mais pobre - a crise!
Paradoxalmente, por lá hoje em dia, nota-se nos “homus urbanus nativus” pouco interesse pelo boi. E na minha opinião, apenas minha opinião, o momento econômico exige descer o boi do morro e coloca-lo no cabeçalho de toda e qualquer discussão.  


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