De uns tempos para cá dei
de me submeter à lembranças afáveis do passado, do tempo em que, jovem ainda
sonhava amar qualquer mulher que por um instante ou tempo deitara os olhos em
mim com aparente meiguice.
Tanto eu quanto todos os
jovens rapazes daquela pequena cidade nos demos a esse enlevo e neste embalo
vivemos dias felizes sem o menor incomodo às mulheres que “amávamos” sem que
elas soubessem do nosso amor, uma delas que fosse. Primas, professoras, colegas
de escola, vizinhas, de repente eram a nossa “paixão” – muitas vezes em troca
de simples corriqueiro, bom dia.
Assim, felizes para
sempre, construímos cercas ao redor de nós mesmos quanto a um dia qualquer ter
que prestar contas ao próprio passado, como me acontece tão pesadamente hoje.
Décadas depois desse tempo
feliz – quando amávamos quem queríamos sem nenhuma necessidade de reciproca – o
destino trás de volta ao meu cotidiano essas mulheres, meus amores de ontem.
A internet, o face book
quase que as coloca em meu quarto como que a compensar o desconhecimento com
que elas passaram e passam alheias pelos meus sentimentos da juventude.
Amei algumas delas e mesmo
hoje, décadas após, sem que qualquer
delas desconfie, não me arrisco a contar detalhadamente a história e citar
nomes. E que sorte tem elas ignorando que as amei naquele tempo!
Todas se casaram ou se
deram muito bem na vida, o que jamais teriam conseguido comigo. Não fui prospero
na vida, não consegui bons negócios, nem bons empregos, nem poder politico –
fiz-me à poesia, à boemia, à vidinha repetitiva, entregue à solidão, a alguns
ou muitos desperdícios, a arrependimentos, a culpas, ao auto exilio.
Continuo amante da lua, do
sereno, dos bares, dos cinemas, dos teatros, da literatura e dos sonhos – ainda
quero dar a volta ao mundo em pelo menos trezentos dias.
Reencontro algumas dessas
mulheres amadas de ontem e lá está uma rainha do lar dentro de uma soberba mansão,
outra como executiva de multinacional, outra dona de um salário até suspeito, e
quase todas casadas com homens de negócios....quem diria?
A decência que fez da
minha vida um jeito fácil de viver me faz desejar-lhes que estejam e vivam
felizes, principalmente as que conseguiram esses extraordinários maridos.
É certo que nesta vida nos
dias de hoje nada se cria, segundo essa máxima incontestável no campo dos
sentimentos juvenis é provável que os filhos dessas mulheres em idade de se
apaixonar estejam repetindo a nós daquele tempo. É que o amor se constrói com o
tempo e o tempo destrói o amor, mas nada pode contra a paixão.
Paixão não passa porque é
a forma mais feliz de se iniciar na liberdade de sonhar.