À
época da minha infância bem infante havia um brinquedo que nos encantava a
todos....a piorra.
Eram
lindas, de alumínio, estrategicamente coloridas de sorte que quando rodavam os
traços coloridos criavam a impressão da infinitude – não havia moleque que
resistisse a tanta beleza.
A
cidade de Volta Grande, pequena ainda hoje, com menos de três mil moradores
urbanos, era ínfima na época. A referencia de cidade grande próxima era Além
Paraíba, só possível de visita por trem e por estrada carroçável. O ônibus da
Viação Aparecida que uma vez ia e outra voltava num mesmo dia, a depender da
época consumia quatro horas para vencer os intermináveis vinte quilômetros que
as separam. O trem era para as pessoas
de melhor poder aquisitivo.
Na
cidade apenas duas lojas faziam compras para o natal: A Venda Nova, do Senhor
Sebastião Cassani, e a Casa Hissi, do Senhor José Hisse. Naquele natal
apareceram na cidade as piorras, senhor Sebastião mandava pendura-las no forro
da loja, em barbante, muitas, uma ao lado da outra – uma novidade irrestível.
Na Casa Hissi também podíamos ve-las atrás do vidro do pomposo balcão muito
comprido, em madeira de lei e visor de vidro, frontal e na mesa do balcão.
Acreditávamos
no Papai Noel e não nos pais assumindo esse papel. Tínhamos que escrever ao bom
velhinho, colocar o bilhete no sapato sob a cama ou leva-lo com bilhete e tudo
para a janela. Para as crianças de aquela época o Papai Noel podia tudo, logo
qualquer criança podia pedir-lhe o que quisesse.
Naquele
natal, claro, pedi uma piorra, só dormi porque não podíamos ver o Papai Noel chegar, entrar pela chaminé e
colocar sobre o sapato o presente pedido.
Mas o meu Papai Noel não veio. Chorei, incomodei a mãe e ela explicava
que o nosso presente eram pelejas novas, o verão logo terminaria, o inverno
estava à porta. Mas quem éramos nós para entender a praticidade do “presente”
de cama.
Ora,
o desprovimento da cidade naquela época
dava origem a um dia seguinte típico: quase todos os meninos para os
quais o Papai Noel entregava o presente ganhavam praticamente a mesma coisa:
naquele ano, quando saímos à rua ali mesmo em frente de casa estava a meninada
com suas piorras, algumas diferentes apenas no traçado do enfeite.
Mediante
essa “provocação” só mais tarde, quando reiniciava o catecismo conseguia o
nosso coração, nas explicações das catequistas, um abrandamento para o
aborrecimento que o Papai Noel tinha nos causado. Depois cresci, quis o destino
que viesse a estudar no colégio das freiras dominicanas, e delas e com elas
desenvolvi a compreensão de começar meus natais primeiro na igreja, desde o
inicio do período litúrgico do advento.
Depois
da igreja, aí sim, a minha forra: boto um pouco de riqueza nos presentes, na
ceia, na ornamentação, na caridade.
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