Translate

segunda-feira, dezembro 25, 2017

PIORRA E PAPAI NOEL

À época da minha infância bem infante havia um brinquedo que nos encantava a todos....a piorra.
Eram lindas, de alumínio, estrategicamente coloridas de sorte que quando rodavam os traços coloridos criavam a impressão da infinitude – não havia moleque que resistisse a tanta beleza.
A cidade de Volta Grande, pequena ainda hoje, com menos de três mil moradores urbanos, era ínfima na época. A referencia de cidade grande próxima era Além Paraíba, só possível de visita por trem e por estrada carroçável. O ônibus da Viação Aparecida que uma vez ia e outra voltava num mesmo dia, a depender da época consumia quatro horas para vencer os intermináveis vinte quilômetros que as separam.  O trem era para as pessoas de melhor poder aquisitivo.
Na cidade apenas duas lojas faziam compras para o natal: A Venda Nova, do Senhor Sebastião Cassani, e a Casa Hissi, do Senhor José Hisse. Naquele natal apareceram na cidade as piorras, senhor Sebastião mandava pendura-las no forro da loja, em barbante, muitas, uma ao lado da outra – uma novidade irrestível. Na Casa Hissi também podíamos ve-las atrás do vidro do pomposo balcão muito comprido, em madeira de lei e visor de vidro, frontal e na mesa do balcão.
Acreditávamos no Papai Noel e não nos pais assumindo esse papel. Tínhamos que escrever ao bom velhinho, colocar o bilhete no sapato sob a cama ou leva-lo com bilhete e tudo para a janela. Para as crianças de aquela época o Papai Noel podia tudo, logo qualquer criança podia pedir-lhe o que quisesse.
Naquele natal, claro, pedi uma piorra, só dormi porque não podíamos ver  o Papai Noel chegar, entrar pela chaminé e colocar sobre o sapato o presente pedido.  Mas o meu Papai Noel não veio. Chorei, incomodei a mãe e ela explicava que o nosso presente eram pelejas novas, o verão logo terminaria, o inverno estava à porta. Mas quem éramos nós para entender a praticidade do “presente” de cama.
Ora, o desprovimento da cidade naquela época  dava origem a um dia seguinte típico: quase todos os meninos para os quais o Papai Noel entregava o presente ganhavam praticamente a mesma coisa: naquele ano, quando saímos à rua ali mesmo em frente de casa estava a meninada com suas piorras, algumas diferentes apenas no traçado do enfeite.
Mediante essa “provocação” só mais tarde, quando reiniciava o catecismo conseguia o nosso coração, nas explicações das catequistas, um abrandamento para o aborrecimento que o Papai Noel tinha nos causado. Depois cresci, quis o destino que viesse a estudar no colégio das freiras dominicanas, e delas e com elas desenvolvi a compreensão de começar meus natais primeiro na igreja, desde o inicio do período litúrgico do advento.
Depois da igreja, aí sim, a minha forra: boto um pouco de riqueza nos presentes, na ceia, na ornamentação, na caridade.   

Nenhum comentário: